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A escravidão é uma chaga aberta na história humana. Mas sempre que falamos de escravidão lembramos dos nossos escravos negros, trabalhando nas lavouras de cana de açúcar, nos engenhos, nas cidades carregando mulheres ricas em suas liteiras, no período colonial, dos escravos americanos, também negros africanos, nas plantações de algodão. Mas o trabalho escravo foi a base de todas as grandes civilizações. Existiu desde o início da humanidade. Nem sempre foi ligado a raças ou cor da pele. Os incas escravizavam prisioneiros, grupos rivais, os astecas faziam o mesmo, os maias, os índios brasileiros escravizavam outras tribos. A humanidade sempre se dividiu em senhores e escravos. Uns nasceram para dominar o mundo; outros nasceram para obedecer, diziam os senhores de escravos. Os astronautas conseguem observar as marcas da escravidão em nosso planeta quando enxergam os mais de vinte mil quilômetros da Muralha da China, construída ao longo de mil anos, com trabalho forçado de um milhão de cativos. As Pirâmides do Egito, o Coliseu Romano, os Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro, tudo foi construído por mão de obra escrava. No Museu Imperial, em Petrópolis, no Rio, está exposta a Coroa de D. Pedro II, com suas 639 pedras de diamantes, garimpadas por escravos nas Minas Gerais. As civilizações gregas, romana, egípcia se estabeleceram graças ao trabalho escravo. O desenvolvimento da Inglaterra, Rússia, China, França, Espanha, Japão se deu sob a custódia de milhões de cativos. Os índios scherokees, nos Estados Unidos tinham plantações de algodão cultivadas por escravos africanos.

Não há uma única região do planeta que não tenha abrigado, em algum momento, essa instituição. Não deve existir nenhum grupo de pessoas, cujos ancestrais, nunca tenham sido, em algum momento escravos ou donos de escravos. Na coluna anterior me referi aos meus antepassados, os Medeiros, que foram trazidos da África para serem escravizados aqui. Estima-se que em 1800, há apenas dois séculos, houvessem mais de 45 milhões de escravos no mundo, podiam serem comprados ou vendidos como qualquer mercadoria. Haveria pouca diferença entre o uso do trabalho escravo e a exploração de animais domésticos. Na América Central, em Cuba, Cartagena de Las Índias, República Dominicana, Haiti, milhares de escravos turcos, gregos, eslavos, franceses e alemães eram vistos trabalhando ao lado de africanos.

Famoso sociólogo, Orlando Patterson, definiu a escravatura como uma morte social, na qual o cativo é arrancado de seu lugar de moradia, da sua família, da sua língua, das suas crenças, seus ancestrais, seus costumes. Sofre uma espécie de desenraizamento, excomunhão da família e da sociedade original.

O Brasil, maior território escravocrata do Hemisfério Ocidental, teria recebido seis milhões de cativos africanos. Como resultado o país tem hoje a maior população negra do planeta, com exceção da Nigéria. Foi também o que mais resistiu a acabar com o tráfico de pessoas e o último a abolir o cativeiro.

Alguns se arriscam a dizer que a escravidão por aqui foi “soft”, que o regime aqui era “suave”. Não existe escravidão mais ou menos suave; existe escravidão!

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