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Ando preocupado, pois uma amiga me disse eu estou ficando caduco. No primeiro momento não quis admitir. Perguntei para a Eduarda, nossa colega de trabalho, se ela havia notado alguma coisa. Sincera, como sempre, ela sorriu complacente e disse: o senhor anda apenas distraído, ultimamente. E lembrou que a memória é a capacidade de armazenarmos informações no cérebro. Talvez essa esteja um pouco cansada. Costuma acontecer com pessoas com um pouco mais de idade. É a falta de fosfato.

Comecei a fazer uma auto-reflexão. Mentalmente relembrei datas de fatos, aniversários, acontecimentos. Lembrei de lugares onde estive, recitei mentalmente nomes de cidades do RS (e fui longe, 376), lembrei do dia em que mataram John Kennedy (22 de Novembro de 1963), do Dia D (invasão da Normandia, na França). Lembrei que em qualquer retângulo o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual a soma dos quadrados dos catetos. Lembrei do nome de seis dos afluentes da margem esquerda do rio Amazonas, lembrei que o Getúlio Vargas se suicidou no dia 24 de Agosto de 1954. Enfim lembrei-me de dados inúteis, de acontecimentos mais ou menos sem importância, mas lembrei. Lembrei também que sou capaz de escrever crônicas, semanalmente para quatro jornais, então pelo raciocínio lógico, não devo estar tão mal assim como dizem meus detratores.

O problema é que estou esquecendo as chaves da casa, do carro, em qualquer lugar que eu ande. Já deixei no Banco, no Mercado da Leila, na Prefeitura, no Correio. Não esqueci na igreja porque não estou frequentando igreja ultimamente. Dias atrás deixei o carro em frente ao Banrisul e vim para casa pedir ajuda para a Célia, revirei freneticamente gavetas, prateleiras, a casa toda para, de repente, achar o molho de chaves no bolso. Tenho certeza de que foi o demônio que colocou ali, só para me irritar. Agora tenho andado mais à pé.

Óculos. Malditos óculos. A toda a hora se escondem de mim. Tenho certeza de que os larguei em algum lugar mas quando vou usar novamente não estão mais lá. Pacto com o demônio para me azucrinar. Para não dar o braço a torcer para o Satanás eu vou até a relojoaria do Eich e compro mais um. Devo estar com uma coletânea de mais de quinze óculos. Enfrento um guerra sem tréguas todos os dias mas sairei vencedor.

Então acho que não sou caduco. Sou apenas um pouco distraído, como disse a Eduarda. Caduco seria se esquecesse de vestir as calças antes de sair para a rua, colocasse a camisa do avesso, uma meia branca, outra preta, escova de dente no bolso ao invés do pente, desse os parabéns a viúva no dia do velório do marido, embarcasse no ônibus com destino a Tucunduva ao invés de ir para Santa Rosa. Caduco seria se um dia não achasse mais o caminho da minha casa velha em São Francisco de Assis. Gosto tanto de lá! Que eu não esqueça nunca daqueles que um dia me deram a mão quando eu precisei! Seria uma ingratidão!

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