Como é bom parar no tempo e poder reviver aquelas marcas, memórias daqueles momentos que corríamos pelas ruas do bairro, do potreiro, atravessava a “pingela” da sanga, resvalava e caia no barro. E o cheiro da casinha da vovó! Com aquele pão fresquinho saído do forno de barro, a geléia cozida por horas a fio no fogão à lenha. Os carrinhos feito com qualquer material obtido no meio de tantas sucatas, as roupinhas de bonecas costuradas à mão com retalhos de tecidos. Assim era, alguns tijolos e pedaço de telha que viravam uma casinha no quintal da casa, a alegria dos domingos quando reunia aquela criançada, fazendo aquela bagunça boa. Está bem, claro que aconteciam inúmeras situações, dedo cortado, brigas, tombos de bicicleta e as vezes até braço fraturado. Lembranças!

As brincadeiras iniciam desde muito cedo. Quem não conhece a brincadeira do “Cadê Achou”. Uma brincadeira de extrema potência que é muito importante ser praticada com os bebês, pois ao invés deles chorarem pela saída da mãe, irão poder elaborar brincando e ainda se divertindo. Essa brincadeira é estruturante para esse serzinho tão pequeno, e que ao contrário ao que até então não se sabia, compreendem e sentem o mundo ao seu redor, o que se passa no ambiente respondendo tudo à sua volta.

A infância, um tempo de maiores aquisições, registros, onde a constituição psíquica é precoce e se constrói a partir da relação com o semelhante. Aquele que acolhe, que nutre que faz a leitura do que acontece a sua volta, aquele quem dá nome e sentido as coisas; que não só dá o leite mas se deleita com o sabor em ver aquele bebezinho tão pequeno. Esta fase é de um tempo precioso e fundamental para a formação humana.

Pois é no ato de brincar com sentido de cuidar, que se desenvolve a imaginação, a criatividade a capacidade de criar e de se reinventar. Também é nela que desenvolve alternativas de elaboração para os conflitos. Sim! As crianças também os têm e sofrem com eles. O brincar é fundamental e estruturante no processo da constituição das aquisições para a aprendizagem. Nessa ação acontece vários processos importantes além da criança entrar em contato com seu mundo e seus pensamentos. Com isso, ela constrói sua linguagem, seu tônus, habilidades psicomotoras, cognitivas, socias e éticas. Ela constrói bordas para seu corpo e o corpo do outro, ela constrói seu ego. Lembrando, sempre com o auxílio do outro que demarca e vai ajudando a dar sentido as experiências. E senão é o que recordamos da nossa infância, as experiências?

Por isso brincar é coisa séria!

Débora Regina Knebel é Psicóloga, Psicanalista em formação e Mestre em psicanálise. Membra do Núcleo da infância e educação do Projeto Associação Científica de Psicanálise e Humanidades de Passo Fundo e membra da Rede-Bebê Brasil. Trabalha com psicoterapia e psicanálise com bebês, crianças, adolescentes e adultos.