Retratar figuras que tiveram um papel importante, direta ou indiretamente na história, ou de uma determinada localidade e até mesmo de cunho particular para alguns indivíduos, é uma forma de preservar, homenagear e reviver tais acontecimentos. Santa Rosa, por mais que seja uma cidade pequena, teve participação de santa-rosenses em um dos episódios mais conhecidos globalmente: a Segunda Guerra Mundial.
Apesar de existir inúmeros filmes em relação a esse assunto, nenhum aborda personagens específicos de lugares não muito conhecidos. Dessa maneira, está em processo de reprodução um documentário que trata sobre um soldado, natural de Santa Rosa, mas ingressado no Quartel de Cruz Alta, que atuou em um dos maiores combates do planeta.
Norberto Henrique Weber, santa-rosense, lutou e morreu durante a II Guerra Mundial. O documentário que está sendo realizado, narra exatamente a história desse indivíduo, o Cabo Weber, que representou todos os Pracinhas que integraram na Força Expedicionária Brasileira (FEB), e lutaram nos campos da Itália, durante a luta contra o Nazifascismo. Reunindo entrevista de ex-combatentes, pessoas que conheceram o Expedicionário Weber e familiares, o filme faz um resgate utilizando fotos, imagens e documentos para que todos possam conhecer essa pessoa que morou na região, mas que fez seu nome durante a guerra.
Anderson Farias, Diretor de Cinema, Jornalista, Ator, Produtor Cultural e Professor, diz que a ideia de realizar esse documentário aconteceu no final de 2014, em uma conversa com o Vladimir Fernando Dalla Costa Ribas, Coronel da Brigada Militar, atualmente Comandante Regional do CRPO-Missões em Santo Ângelo, isso porque, no próximo ano, em 2015, foi comemorado os 70 anos do final da Guerra na Itália e também da morte do Cabo Weber. O Coronel Ribas, neto de expedicionário, estava organizando uma série de ações para homenagear os Pracinhas na cidade. Naquele ano, inclusive, foi realizado em Santa Rosa o Encontro Nacional da FEB – Força Expedicionária Brasileira. Então, prontamente, foi sugerida a proposta de que fosse elaborado um filme que contasse a história de Weber, dado que, mesmo sendo santa-rosense, muitas pessoas não tem a dimensão de quem foi esse personagem. Logo, produziram um média-metragem, no qual foi exibido apenas nesse encontro nacional, porém, mantiveram a ideia de estender a um longa-metragem do projeto.
Assim, em abril de 2015 se dirigiram à Itália e registraram diversos depoimentos que fizeram parte do média-metragem. Atualmente, estão na fase de adaptação deste material, que vai receber um roteiro mais elaborado, e também, entrando na fase de captação de recursos para viabilizar o projeto. O documentário envolve várias pessoas e várias empresas. O projeto tem como autor o Coronel Ribas que iniciou com as Produtoras CASA VERDE e LANTERNA MÁGICA de Santa Rosa, Pladinir Malmann e Anderson Farias, que divide a direção no nesse segundo filme com Emiliano Ruschel, e recentemente, na nova fase integrou-se ao grupo a Produtora ORACLE FILMS de São Paulo. Segundo Farias, a pandemia do Covid-19 é um grande problema e que atrapalha bastante a finalização, uma vez que, os planejamentos ficam sempre condicionados a fatores imensuráveis, mas imagina que em dezembro, ou no máximo no início do ano que vem, estará rodando.
O município de Santa Rosa foi onde o Cabo Weber nasceu, onde passou sua infância e adolescência, onde estudou, realizou cursos técnicos, como de Contabilidade e trabalhou, no então armazém do seu Pohl, na mesma localidade. Além do mais foi o único Pracinha da região que morreu na Segunda Guerra Mundial, na campanha da Itália. Depois de sua morte o Poder Público realizou diversas homenagens a ele, construindo monumentos e colocando seu nome em Avenidas e em Escola.
O objetivo do documentário, de acordo com Anderson, é mudar a perspectiva que são mostrados os registros da Segunda Guerra Mundial e focalizar no indivíduo que teve sua vida radicalmente transformada. “Existem muitos filmes sobre a segunda guerra. Alguns são superproduções caríssimas e que contam muito bem os fatos que se sucederam antes, durante e depois do conflito. Nosso filme quer debruçar o olhar para o lado humano. Quem foram esses homens que saíram de diversos pontos do Brasil e que foram colocados em uma guerra, que a princípio, nem tinham muito conhecimento. Quais as suas histórias, suas angústias, seus sonhos? Esse é o ponto que queremos trabalhar. O Cabo Weber é uma espécie de fio condutor, mas temos as vozes de vários personagens que contam seus dramas. E assim, também conhecemos um pouco do Weber, já que ele não pode contar sua própria história”.
Além disso, Ribas salienta que é uma forma de resgatar, enaltecer e homenagear os Pracinhas, oriundos dos mais diversos rincões do Brasil, vindo de diferentes camadas sociais, nos quais eram pessoas comuns, a maioria agricultores, mecânicos, estudantes, pedreiros, carpinteiros, marceneiros, militares, peões, enfermeiros, enfim, representam um pouco do Brasil daquela época. “Até hoje são homenageados na Itália com monumentos e com o carinho do povo italiano, que nunca os esqueceu. Deixaram exemplos de humildade, de humanidade, de amor ao próximo, de camaradagem, de coragem, de sacrifício e principalmente de civismo, pois abriram mão de tudo, pelo amor a seu País e no cumprimento do dever em servir a Pátria e defender sua família contra a injustiça que pairava sobre o mundo naquele momento. Queremos também esclarecer como se deu a morte do Cabo Weber, pois constatamos que as pessoas desconhecem isso, muitas disseram que ele morreu desarmando minas, depois de terminada a guerra, como se o fato de morrer na guerra deveria ser em combate, afastando ou desmerecendo a ação que levou a sua morte. Ledo engano, pois qualquer dos Pracinhas que foram para a guerra de navio, atravessando o atlântico poderia ter sido afundado e todos morrerem antes de combaterem, e isso não tira deles o brilho de seus feitos, pois abriram mão de sua individualidade para lutarem naquilo que acreditavam, que era a defesa do mundo contra o nazifascismo”, conclui.
Com as parcerias que formaram, a intenção é de colocar o filme em plataformas digitais para que o máximo de pessoas possam conhecer a história do Cabo Weber e, por conseguinte, um pouco da história desses homens que viveram os dramas do maior conflito armado da história da humanidade.
Eles convidam, ainda, a curtirem a página do Facebook CABO WEBER – O Documentário para acompanharem as postagens e os processos do desenvolvimento.
Mas quem foi Cabo Weber?
Norberto Henrique Weber nasceu dia 24 de março de 1924, na localidade de Manchinha, Lajeado Ipê, distrito de Santa Rosa, próxima a divisa com o município vizinho de Santo Cristo. Filho de Pedro Weber e Dona Hilda Weber e irmão de Valdir, que já faleceu, mas que chegaram a registrar depoimentos e Nair Weber Schmidt, que atualmente reside na cidade de Toledo, no Paraná. Antes de completar 18 anos se apresentou voluntário em janeiro de 1942, no 8º Regimento de Infantaria, em Cruz Alta, onde realizou o curso de Cabo. Dessa forma, Quando o Brasil entrou na guerra ele já era militar de carreira. Weber apresentou-se como voluntário para compor o efetivo da FEB, e em 24 de dezembro de 1943, foi incluído no 6º Regimento de Infantaria – 6º RI, em Caçapava, São Paulo. Seu embarque deu-se junto ao 1º Escalão, composto de um efetivo de 5.075 homens, no dia 02 de julho de 1944, a bordo do navio transporte “USS General W. A. Mann”. A chegada e desembarque do 1º Escalão foi no dia 16 de julho, no Porto de Nápoles, na Itália. A partir da sua chegada, o Cabo Weber, era chefe de peça de morteiro, pertencente ao Pelotão de Petrechos, da 9ª Companhia do III Batalhão, do 6º Regimento de Infantaria, e passou a operar na campanha da Itália, participando de inúmeros combates e registrados em seus assentamentos, sendo Borgo a Mozzano, tomada de Camaiore, nos três ataques a Monte Castelo, nos dias 24, 25 e 29 de novembro de 1944. Participou ainda da tomada cidades de Rocca Pitiglina, Le Vigne, Braine, Rancali, Santa Maria Villiana, cotas 882, 822, 800 a oeste de Garre de Nerone, Marro Della Croce, cotas 702, 720, 722, Safra Lasso, Catelnuovo e Montese, local em que faleceu no dia 14 de abril de 1945 aos 21 anos. Foram atacados pelos alemães e ele foi atingido por uma granada. Era um jovem cheio de vida, adora tocar violão, estar com os amigos, era engraçado e divertido – de acordo com os relatos das pessoas que o conheceram. Foi o único dos militares que saíram do noroeste do estado a tombar em combate.