Em meio a tantas notícias sobre o Coronavírus, algumas delas errôneas, é preciso estar bem informado sobre a doença, para tentar lidar da melhor maneira durante esta situação de Pandemia mundial. Por isso, nesta semana, a reportagem do Jornal Gazeta Regional, conversou com o Médico Epidemiologista, Luis Antônio Benvegnú, que tem Doutorado nesta área pela Universidade Federal de Pelotas e pela University If Massachussets , dos EUA.
Confira a entrevista:
JGR – Em primeiro lugar, como o senhor avalia hoje a situação do Coronavírus no Brasil?
Benvegnú- A epidemia no Brasil tem se comportado da mesma forma que nos países que já passaram por ela. Comporta-se como epidemia explosiva, onde o crescimento dos casos é exponencial, sinalizando que poderemos ter um grande número de casos em um período relativamente curto de tempo.
JGR – Santa Rosa poderá chegar a um nível preocupante de casos?
Benvegnú – Sim, devemos nos preocupar, pois, se não tomarmos as medidas indicadas para a contenção da epidemia incentivantemente teremos um número elevado de casos. No entanto, não devemos nos alarmar, mas sim tomarmos individual e coletivamente as medidas recomendadas pela saúde pública.
JGR – Que recomendação o senhor dá para as pessoas no sentido de prevenção?
Benvegnú – A principal medida de prevenção do crescimento do número de casos da epidemia é o isolamento. O isolamento voluntário (ficar em casa, não ir a eventos que não seja extremamente necessário, estimular os amigos a cancelar encontros com concentração de pessoas, etc…), a suspensão de eventos públicos, a quarentena indicada pela vigilância epidemiológica. Com isso diminuiremos a circulação do vírus e consequentemente, o número de casos. Além disso, as medidas de proteção individual como lavara as mãos, uso de álcool gel, etiqueta respiratória, entre outras. Mas reforço que a medida mais efetiva é o isolamento.
JGR – Estar com a imunidade boa e fazer uso de vitamina C agora, ajuda?
Benvegnú – Estas medidas ajudam a saúde das pessoas, principalmente a vitamina C existente nos alimentos, principalmente frutas. Então, boa alimentação, sono adequado, realização de exercícios ajudam a ter o organismo mais saudável e com isso enfrentar melhor qualquer doença, inclusive o Coronavírus.
JGR – Pode uma pessoa ter vindo da Europa, por exemplo, e não demonstrar sintomas do Covid-19 e outra que esteve bem próxima, manifestar sintomas? Ou seja, pode não dar nada na pessoa que viajou e dar no familiar que esteve próximo?
Benvegnú – Sim, é possível que a pessoa que viajou tenha a doença de forma mais branda e não apareçam os sintomas. Esta pessoa, no entanto, estaria transmitindo o vírus e outra pessoa que conviveu e não tomou os cuidados poderia adquirir o vírus e desenvolver a doença com sintomas.
JGR – Idosos e pessoas com doenças pré-existentes são as que tem mais chances de morte?
Benvegnú – Sim, a doença é nova e estamos aprendendo sobre ela, mas o que se observou nos países que tiveram e tem muitos casos, foi este comportamento: maior gravidade e risco à vida em idosos e pacientes com co-morbidades.
JGR – A estrutura do Hospital Abosco poderá ser usada para receber apenas pacientes com Covid-19. Isso é positivo. Mas quem precisa ser internado, é porque está com problemas respiratórios ou complicações. O hospital tem estrutura pra estes casos? Teria aparelhos de ventilação respiratória para todos?
Benvegnú – Estão sendo empreendidos esforços para preparar o hospital Abosco com equipamentos e pessoal para ser o centro de referência para os atendimentos dos casos que necessitem internação em enfermaria ou cuidados de UTI. Isto é positivo, pois além de atender toda a região, deixa o hospital Vida & Saúde livre destes casos, diminuindo o risco de transmissão por lá. Com certeza o hospital Abosco só prestará atendimentos se estiver com todas as condições.
JGR – Em um possível número grande de casos, já se pensou em como agir, o que fazer?
Benvegnú – Sim, existe uma equipe de técnicos que está estudando diariamente os cenários para orientar as ações do sistema e organizando o sistema para a possibilidade de ocorrência de muitos casos.
JGR – O fato de estarmos nos aproximando do inverno, preocupa?
Benvegnú – Sim, preocupa. Aparentemente o vírus tem se mostrado com maior transmissibilidade nos países que atualmente estão no inverno ou com mais frio como é o caso da Itália e outros países da Europa e dos EUA. No entanto, a experiência do vírus no Brasil, mais especificamente no Sul onde é mais frio, saberemos quando acontecer. Esta observação nos sinaliza que devemos observar as medidas de contenção da epidemia, sobretudo a observação do isolamento.
JGR – Como vamos identificar se no frio, é uma gripe ou Coronavírus?
Benvegnú – Muitas vezes não será possível diferenciar. Por isso a importância da vacinação contra o H1N1. Assim, se a pessoa tiver sido vacinado, será maior a possibilidade de ser Coronavírus. No entanto, poderá ser uma gripe causada por outro vírus da influenza que não o H1N1 (e os demais, normalmente 3, que compõe a vacina).
JGR- Pode uma pessoa jovem, sem doença pré-existente, ter Coronavírus de forma severa?
Benvegnú – Em tese pode. O estudo dos casos das epidemias existentes evidenciou muito poucos casos deste tipo. Cabe ressaltar que os estudos ainda são escassos.
JGR – Quem não precisa ir até o hospital, que apresenta sintomas como uma gripe simples, se cura como? Por si só o organismo se recupera? Isso leva em geral quanto tempo? O vírus sai do corpo?
Benvegnú – Importante falarmos disso. A cura da Covid-19 é igual a cura de uma gripe (a maioria da população já passou) a doença chega, dá os sintomas de febre, dor no copro, tosse, etc.. e o organismo “combate” o vírus através do sistema imunológico. Este processo, que depende de pessoa para pessoa e do estado do seu sistema imunológico, demora entre 7 a 14 dias normalmente.
JGR – Existe algum medicamento que se dá a quem precisa ser internado ou é só respirador que se coloca no paciente?
Benvegnú – A maioria dos casos graves que tivemos até agora estava associado às comorbidades (doença respiratória prévia, doença cárdio-circulatória, diabetes e outras doenças crônicas), então o tratamento envolve também as outras doenças, mas nos casos de UTI a grande maioria necessita de ventilação assistida por grandes períodos de até três semanas.
JGR – É verídico que em muitos casos, quem tem Coronavírus é como se tivesse uma gripe normal? Que não seja tão perigosa quanto dizem por aí?
Benvegnú – Sim. A doença em pessoa jovem e com boa saúde usualmente tem estas características. A grande preocupação é que esta pessoa, se não houver o isolamento, vai transmitir para muitas outras e muito rapidamente. O acúmulo de doentes resultará em muitos casos graves e isto poderá ser maior do que a capacidade dos nossos serviços de saúde. Isto aconteceu na Itália que chegou a ter perto de 500 mortos num único dia. Então, não é hora de cada um pensar como será a doença em si mesmo, mas como a sua conduta individual pode ajudar a conter a propagação do vírus. Por isso está se falando que palavra chave no combate à epidemia é “solidariedade”.
JGR – Evitar o contato entre as pessoas hoje é a melhor forma de prevenir o aumento de casos?
Benvegnú – A medida mais eficaz para evitar os danos da epidemia é evitar os contatos desnecessários, o isolamento bloqueia a transmissão do vírus e com isso a epidemia tende a crescer lentamente e depois a diminuir.
JGR – Já se teve alguma doença em anos anteriores semelhante na propagação e perigo que tem o Coronavírus?
Benvegnú- Sim, a humanidade já foi vítima de inúmeras epidemias semelhantes. Algumas, em função de que não se conhecia a doença e a forma de transmissão provocaram muitas mortes. Exemplo a peste e a gripe espanhola. Mais recentemente, com uma propagação menor que o Coronavírus, a gripe H1N1. Mas o vírus “campeão” em propagação é o Sarampo, onde uma pessoa doente transmite para até 15 outras. O Cornavírus fica entre 2 e 3 e o H1N1 é menor do que dois.
JGR – É possível que alguém que veio da Europa, que tenha tido ao menos cuidados básicos, não ter pego o vírus?
Benvegnú – Sim, nem todas as pessoas que chegam da Europa tiveram o contágio pelo Coronavírus. Algumas não tem nenhuma doença e algumas tem sintomas respiratórios sugerindo que pode ser o Coronavírus. Por isso, o SUS identifica as pessoas com sintomas respiratórios, orienta e acompanha o isolamento (compulsório) em casa e faz o teste para saber se era mesmo o Coronavírus e, neste caso, buscar a identificação de locais onde tenha passado e porventura transmitido, com objetivo de incrementar o bloqueio e impedir o vírus de se propagar.
JGR – Crianças que já tiveram histórico de pneumonia, são vulneráveis? Ou não tem relação, chance de pegar?
Benvegnú – Todas as pessoas, inclusive crianças com doença respiratória prévia poderão desenvolver doença mais grave ou, se contrair desenvolver a doença. No entanto, algumas crianças tiveram pneumonias isoladas a mais tempo e não ficaram com sequelas respiratórias permanentes.