É difícil abordar um tema que agrade minimamente. Escrever sobre a Ordem de Santa Úrsula ou sobre a polícia mexicana que atira primeiro para perguntar quem é, depois? Escolher um tema que agrade todos os leitores para depois ser bajulado, embora isso ajude a melhorar esse período tão pobre que estamos vivendo, tão duro quanto sola de sapato, tão ralo de estofo intelectual como sopa de hospital. Como costumo anotar em qualquer papel as idéias ou frases que me ocorrem, estava lendo, ontem, uma lista de assuntos para escrever nesta coluna. Volta e meia sinto vontade de escrever sobre viagens. Viagem enriquece a alma, alarga a alma mas logo me dou por conta da insignificância da minhas micro viagens perante a extensa história de viagens do um dr Eliseu, dr Facchin, Ricardo Luckemeyer, Alissson e tantos outros, verdadeiros viajantes, cidadãos do mundo.
Pois não vou escrever sobre viagem. Vou escrever sobre a crônica falta de qualificação de profissionais no Brasil. De novo? E eu respondo, sim. Quantas vezes o tema estiver em tendência. Enquanto o problema persistir, enquanto não buscarem solução. Afinal um jornalista não deve escrever apenas sobre temas amenos. Tem que explorar a realidade cotidiana. Ao final de 2022 haviam 9,4 milhões de estudantes na universidade, no Brasil. A conseqüência é que temos um alto percentual de brasileiros com nível superior. Aumentaram os números de faculdades, sejam presenciais ou á distância. Temos o dobro da década passada. Isso não seria problema e sim, solução. Não fosse as faculdades continuarem a formar profissionais sem as competências exigidas pelo mercado de trabalho. Hoje os empresários oferecem treinamentos durante vários meses na empresa para depois os profissionais terem condições mínimas de assumirem algum posto de trabalho nessa empresa. Saídos da faculdade não têm condições de operarem sem treinamento prático.
Hoje existem milhares de vagas para bons profissionais nas áreas de ciências, matemática, engenharia e tecnologia, principalmente nas áreas de tecnologia da informação. Faltam 530.000 profissionais na área de tecnologia no país. Caso sui generis, a Cloud Walk, dona da famosa maquininha de pagamento, precisava aumentar o número de sua equipe de IA. Na falta de bons profissionais no Brasil e havendo a possibilidade de trabalho á distância, fez a seleção de candidatos estrangeiros. Hoje conta com profissionais da Índia, África do Sul, Canadá e, pasmem, até da Bolívia. Não se ofendam. mas a escola no Brasil é muito precária. A Universidade tem muita teoria que quando vai aplicar é muito diferente, ás vezes, ultrapassada. Há que se aproximar das práticas, das questões da vida. Governo após governo não conseguem resolver o problema. Temos greve no Brasil todos os anos. Dois, três meses. A alegação é de que o salário propicia apenas um estado de miserabilidade. Muito abaixo de outros grupos sociais. Tudo bem! Mas essas greves, acabam prejudicando alunos e sociedade. E quanto ao salário está longe de ser considerado ruim. E ainda não ouvi falar que um professor abandonou a carreira. As reivindicações são as mesmas de trinta e cinco anos atrás. Mais dinheiro, plano de carreira, mais dinheiro público para as Universidades.
Curioso é que cinco cursos dominam a procura por matrículas na Universidade e o mais procurado é Pedagogia. Outros ao Administração, Enfermagem, Direito, Economia. Após receberem o diploma apenas 8%dos Advogados, 7% dos Enfermeiros, 3,4% Administradores e 12%dos professores conseguem emprego. A maioria, frustrados, guarda o diploma numa gaveta e acabam trabalhando numa atividade, para a qual bastava um bom nível médio ou um curso profissionalizante.
Muitas Faculdades viraram negócio, empresas. Esqueceram conceitos como meritocracia, competência, qualificação, respeito ao contribuinte.