Encontro dos sobreviventes

Encontro dos sobreviventes

Recebi o convite para participar do encontro dos ex colegas do Curso de Técnico Agrícola. Pensem comigo. Me formei em 1973, estamos em 2022. Fazem quase cinqüenta anos que nos emocionamos com a oratória única do inteligente colega Edenir Vargas Dorneles. (Se ele se assinasse Edenir Dorneles Vargas, garanto que iria dizer que era parente próximo do Presidente Getúlio). Uma curiosidade mórbida me assaltou ao receber o convite. Que raios vou fazer por lá? Não vou reconhecer mais ninguém. Vou ficar triste sabendo que tantos se foram. O tempo destrói memórias, lembranças, nos torna distantes em todos os aspectos. Por outro lado me assaltam retalhos de momentos alegres, confraternização, amizades que, estas sim, o tempo não afeta. Será um momento de felicidade única encontrar o BMW, Bolacha Mais Velho, como ele mesmo se intitula hoje e outros tantos colegas.

Fiquei pensando na possibilidade de encontrar figuras perdidas na minha memória. Saber que rumo tomaram. Ouvir suas histórias e quem sabe escrever uma crônica depois. Ficar sabendo quantos se superaram em suas lutas, quantos sucumbiram, quantos ficaram ricos, quantos fracassaram. Quantos foram aprovados em concursos públicos dificílimos, rigorosos, que exigem qualificação plena. Quantos ex alcoólatras, taxistas, empresários, advogados, engenheiros agrônomos, professores, agropecuaristas. Iremos viver cinqüenta anos em cinco, como diria Juscelino Kubitschek.

Se for ao Encontro ficarei sabendo por onde anda o Antonio Colovini, o Pica Pau, que me dava colas generosas em física e química, matérias que nunca consegui entender. Que rumo tomou o Periá, Sinaleira, Caçhaço, Cavalo Velho, Joaquina, Pinico, Vaca Magra, Cuiudo de Várzea, Serrote, Piru, Sonera, Catatumba, Penosa, Mário Cuiudo, outros tantos. Todos vocês fazem falta em minha vida. Uma lembrança, cada vez mais cinza, permanece sempre presente.

Com a nossa idade não é nenhuma novidade receber notícias de que algum ex colega nos deixou. É sempre um choque, é desagradável. Há pouco dias soube da partida do Sereia. Um líder, um bom colega, um amigo. Há dois anos fui mordido por uma cobra Urutu Cruzeira, a mais venenosa do Sul do Brasil. Quase enrosquei a cola na cerca. Permaneci longo período internado no HUSM, em Santa Maria. Bons profissionais e um sistema de saúde avançado me salvaram. Mas se algo me deixou profundamente feliz, ao ponto de várias vezes me emocionar, foi a manifestação de colegas, que há mais de quarenta anos não sabia sequer por onde andavam. Não sei como se comunicaram mas me enviaram mensagens de pronta recuperação, orações, pensamentos positivos.

Costumo atribuir grande parte da minha recuperação a vocês, meus colegas, meus irmãos. O tempo não apagou nossa amizade. E que tempo bom foi aquele. Foi marcante, digno de um filme. Conheci amigos muito inteligentes. Eu era apenas o bobo da corte, o Borrego, gaiteiro, gaiato. Tocava nos bailes para os outros dançarem. Gostaria de escrever melhor para contar com estilo literário as muitas histórias que vivemos no CAA. Registrar a vida desses companheiros, suas aventuras, da melhor forma que eu pudesse. Até mentindo. Afinal quem escreve deve mentir um pouco para tornar mais aprazível a leitura. Ouvi que um velhinho costumava contar causos para um roda de netos sentados à sua frente. Certo dia exagerou um pouco e um netinho perguntou: vovô, isso é verdade mesmo? E ele respondeu: Ora, se eu falasse somente a verdade não teria graça nenhuma!

Me aguardem no Encontro dos Agrotécnicos.

2 visualizações.
Notícias Relacionadas