Um lugar para a adolescência

Um lugar para a adolescência

A adolescência é uma época da reedição de todas as suas vivências e suas construções psíquicas até o momento; sendo ela uma trajetória que inicia bem antes do nascimento, isto é, no desejo dos pais e o que cada um irá fazer com o que recebeu durante este tempo. Para o adolescente não é diferente, bem como é para o adulto, a criança e os bebês; eles precisam ser compreendidos frente a inter-relação com seu meio social, familiar; na relação com o laço afetivo.

Um estigma criado para rotular a adolescência é que essa fase seria a da “idade difícil” ou “isso é coisa de adolescente mesmo”. Nesse momento se faz necessário compreender as modificações que vão desde o corpo físico ao campo psíquico, marcando presença carnal no sujeito e no corpo que ele abita. Um campo o qual podemos chamar de “limbo”, pois esse sujeito passa de um corpo e um funcionamento infantil, para o de não se reconhecer no corpo atual, pois em um piscar, se transformou em um corpo e mente estranho para si mesmo. A autora e psicanalista Myrian Szejer nos diz que a adolescência sofre a “síndrome do Siri”, pois assim como o siri, o adolescente também perde a sua casca, suas defesas ficam enfraquecidas e ele não se reconhece naquele corpo que abita; uma carcaça que precisa se regenerar, se reencontrar consigo e principalmente ser escutado e compreendido pelo outro.

Este é um momento de grandes transformações que os adolescentes vêm tentando atravessar, podendo percorrer uma linha bastante extensa como: retraimento social, extravagância na personalidade e com objetos de consumo, sentimentos de euforia e depressão, atitudes de desafios assim como, atitudes de perigo, anorexia-bulimia, excesso de eletrônicos, drogas lícitas como ilícitas, dentre outros. É preciso estar atento!

As exigências da vida são inerentes, não podendo ficar de fora, pois elas são vitais para que os seres humanos possam viver e construir a sua vida, fazer suas escolhas, tomar suas decisões e ser capaz de cuidar de si para um dia poder cuidar do outro, ser adulto e capaz. Porém, como poder fazer tudo isso se ele nem bem sabe quem é? Não sabe o que quer ou o que deseja? Ou, o que sou para o outro e o que querem de mim?

É vital para esse momento a função de reconhecimento, não basta atender ao adolescente em suas necessidades básicas e de consumo, que hoje são confundidas e invertidas. É preciso um olhar atento, é necessário que o adolescente encontre em seus pais ou em quem os cuida, o reconhecimento genuíno de seu sofrimento, alguém que seja visto e que opere como fonte de conhecimento, de saber e de guia e de falta também.

por Débora R. Knebel é psicóloga, psicanalista em formação e mestre em psicanálise. Membra do Núcleo da infância e educação do Projeto Associação Científica de Psicanálise e Humanidades de Passo Fundo e membra da rede-bebê sede de Passo Fundo. Trabalha com psicoterapia e psicanálise com bebês, crianças, adolescentes e adultos.

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