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Santa-rosense que reside na Itália, relata situação vivenciada no país

Santa-rosense que reside na Itália, relata situação vivenciada no país

A Santa-rosense Luíza Brun, 25 anos, filha de Márcia e Flávio Brun, que há 2 anos reside em Lucca, região da Toscana, na Itália, conversou nesta semana com a reportagem do JGR, sobre a situação que está o país neste momento e como tem sido a vida dela, desde então, com o surto fortíssimo de Coronavírus. Confira:

JGR – Como você resume a situação aí na Itália?

Luíza – Eu acho até difícil de explicar, é algo surreal. Nunca imaginei que viveria algo assim, parece um pesadelo. A situação está muito complicada, principalmente porque o Governo demorou para começar a tomar atitudes, e por isso a população não levou a sério no começo. Eu percebo que está todo mundo abalado e tenso. A nossa atual situação é de puro isolamento. Praticamente todo mundo está em casa, saindo somente se for muito necessário. Perdemos o nosso direito de ir e vir.

JGR – Quais cuidados você está tendo que ter?

Luíza – No momento só estou saindo para comprar mantimentos. Quando saio sigo as recomendações do governo italiano, que são: manter um metro e meio de distância das outras pessoas, usar álcool em gel ou lavar bem as mãos.

JGR – Como está sendo vivenciar tudo isso?

Luíza – Muito difícil. O isolamento é bem complicado. Não poder sair, ver os amigos, passear, trabalhar, mas eu acho que a pior parte é a incerteza do futuro. Nós não sabemos quando tudo isso vai acabar. Dói muito ver o mundo nessa situação, e o número de contagiados só aumenta mais e mais a cada dia.

JGR – Como tem lidado com a questão do medo?

Luíza – Eu nunca tive medo, e acho que ter medo e entrar em pânico só atrapalha. Temos que ter noção que a situação é grave e respeitarmos todas as medidas do Governo. Mas eu acho que manter a calma é importantíssimo.

JGR – Chegaste a pensar em voltar para o Brasil assim que iniciou o surto da doença aí?

Luíza – Não. Quando tudo começou as pessoas falavam “isso não é nada” ou “é só uma gripe”. Recebi vários vídeos, até mesmo de médicos brasileiros, falando que não tinha motivo para preocupação, e por isso eu fiquei tranquila, mas tudo saiu do controle muito rápido, e quando vi o país estava em quarentena.

JGR – Como você faz quando precisa sair de casa? Para que tipo de atividade você pode sair?

Luíza – Eu evito muito sair de casa, até porque não se pode sair sem justificativa. A polícia está na rua o tempo todo, parando as pessoas e verificando se elas possuem autorização. Além do mais, eles multam quem sai “sem motivo”. Eu posso sair sem autorização somente para levar a minha cachorra para passear, e, mesmo assim, não posso passear muito longe da minha residência. Para mercado, farmácia, ou banco, eu posso sair, mas se a polícia me parar eu tenho que preencher um formulário especificando o que estou indo fazer. A maioria das pessoas não estão trabalhando, porém, as que trabalham precisam de autorização também.

JGR – E quando saí, como é? Que cuidados toma?

Luíza – Quando saio com minha cachorrinha eu fico tranquila porque não tem ninguém. Não toco em nada, mas mesmo assim lavo as mãos quando chego em casa. Quando vou ao supermercado eu uso luvas e mantenho distância das pessoas. O mercado aqui tomou a atitude de limitar o número de pessoas que entram por vez para fazer compras, sendo assim, fica mais fácil manter uma distância segura das outras pessoas. Não sinto medo, mas é uma sensação muito estranha viver tudo isso. Sair e ver tudo fechado e vazio é triste.

JGR – Que recado você deixaria para as pessoas em Santa Rosa, que se acham distante do Coronavírus?

Luíza- Previnam-se. Não esperem o vírus chegar em Santa Rosa para tomar atitudes, pois quando ele chega em uma cidade, ele se espalha muito rápido. Respeitem as medidas do Governo, respeitem o próximo, fiquem em casa e saiam apenas quando for necessário. E, acima de tudo, não subestimem o vírus.

O relato de uma mãe que está com a filha do outro lado do mundo
A professora Márcia Brun, mãe de Luíza, também conversou com a reportagem do Gazeta. Segundo ela, falar de sentimentos neste momento é difícil, porque quando se para para pensar e ainda nomear, é mais ainda. “Acredito que é mais acertado dizer que é um estado de angústia. Esse, me toca profundamente, sinto-me em alguns momentos impotente, mas ao mesmo tempo preciso me recompor e acreditar que tudo vai passar, a Luíza tem uma pulsão de vida muito forte, é determinada e sempre foi muito segura para enfrentamentos e dificuldades”, disse.

Segundo Márcia, ela tem tentado administrar tudo isso com muita calma e perseverança. “As vezes ela está triste e abatida e eu a conforto e digo que tudo vai passar, noutro momento ela me consola e fala que tudo ficará bem. Toda nossa família, irmãos, avós, tios, primos, através das redes sociais, tem dado muito suporte a ela, estimulando, dando força e coragem. Os amigos, também tem contribuído muito para que ela se sinta melhor, a empatia, compaixão e o acolhimento, mesmo pela distância, se faz necessário nesse momento. Nós estamos distanciadas fisicamente, porém me sinto cada vez mais pertinho dela”, diz.

Ela ainda acrescenta: “Não digo que esta experiência seja negativa, digo que podemos aprender muito com ela, acho que ela pode até ser compreendida como necessária nas nossas vidas, não essa crise, mas a crise em si, da nossa própria existência. Essa experiência da tensão, da angústia, da impotência nos fortalece e nos faz crescer como pessoas. Aprendemos muito através da dor, da angústia e sofrimento, precisamos criar e educar nossos filhos para os imprevistos, para o inevitável, para o enfrentamento dos desafios da vida. Não estaremos sempre com eles, mas a certeza de que tudo contribuiu para que possamos sempre nos fortalecer mutuamente”.

 

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