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Quais os cuidados que quem pratica exercícios precisará ter ao retornar para o esporte após a pandemia de coronavírus?

Existem três estágios básicos para a volta a uma atividade ou modalidade: autoconhecimento, preparação física e preparação técnica. Entenda

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TOPO Por Adriano Leonardi

Médico do esporte e ortopedista especialista em traumatologia do esporte e cirurgia do joelho. Membro da Sociedade Paulista de Medicina Desportiva

Retorno ao esporte após a pandemia de coronavírus

Infelizmente, com o anúncio da pandemia gerada pelo novo coronavírus, o isolamento social foi a única saída escolhida para conter o avanço da doença e isso gerou impacto direto no esporte. Temos assistido cancelamento de campeonatos e fechamento de parques e academias. Consequentemente, com menos pessoas se exercitando e sendo “forçadas” ao sedentarismo dentro de seus lares. Como dizia Albert Einstein, “na natureza tudo passa. O traço característico da existência é a impermanência.” E logo retornaremos aos nossos hábitos. Mas como retornar ao esporte?

Levando-se em conta que, estatisticamente, o aumento súbito de volume e intensidade na prática esportiva está intimamente ligada ao risco de lesões, existem três estágios básicos e extremamente importantes da prática esportiva, para retorno a uma atividade ou modalidade: o autoconhecimento, a preparação física e a preparação técnica ao esporte.

Exercícios pliométricos ajudam a desenvolver ritmo, velocidade, força e até resistência muscular — Foto: Divulgação/Getty Images

1. O autoconhecimento

Popularmente conhecido como check-up, envolve a avaliação cardiorrespiratória com exames laboratoriais a fim de se determinar o funcionamento dos mais diversos órgãos, hormônios e níveis de colesterol. Os testes cardiológicos, de suma importância, além de servirem para detectar uma possível doença cardíaca que pode ter ficado latente durante a pandemia, também servem como base na evolução do indivíduo no esporte, como por exemplo, na determinação do VO2 máximo.

O exame do aparelho locomotor envolve a avaliação dinâmica da pisada, também conhecida como baropodometria, com a prescrição de palmilha se necessário, alinhamento dos membros e desvios posturais, discrepância do tamanho dos membros, conhecida no meio medico como dismetria.

De uns anos para cá, tem se dado muita importância para o equilíbrio muscular dos grupos musculares que executam o movimento (agonistas) e os que resistem (antagonistas). Para isso, utilizamos da chamada avaliação isocinética. O teste pode ser realizado em uma máquina acoplada a um computador e com alavanca própria, ou em um dispositivo móvel que pode ser usado em máquinas convencionais de academia, como a cadeira extensora, por exemplo.

O teste serve para mensurar a força, potência e resistência muscular e seus eventuais desequilíbrios. Pode ser utilizado para monitorar ou direcionar o progresso de treinos e reabilitação ou avaliar o atleta antes ou após um período de treinos. Em atletas profissionais, costuma ser usado na pré-temporada a fim de se corrigir qualquer desequilíbrio muscular que possa predispor uma entorse ou uma distensão muscular, estatisticamente comprovados por estudos científicos.

Ultimamente, também tem sido dada muita atenção aos músculos estabilizadores do quadril, pois sua fraqueza ou atraso no disparo muscular durante o movimento afetaria a dinâmica de diversas articulações, principalmente do joelho. De maneira mais didática, isso significa que, em uma aterrissagem do vôlei, por exemplo, o “comando” vindo do cérebro para que a musculatura se contraia de maneira adequada chegaria “atrasado” em alguns músculos, principalmente nos glúteos médio e mínimo no quadril (músculos estabilizadores da pelve) e no vasto medial (músculo interno da coxa), fazendo com que o fêmur “rode para dentro” e deixe a patela mais lateralizada e em contato reduzido das superfícies articulares. A isso, chamamos de valgo dinâmico. Quanto menor a área de contato, maior a pressão e, consequentemente, maior a chance de lesão crônica de tecidos, em especial a cartilagem patelar. Nos últimos cinco anos, alguns autores provaram existir o valgo dinâmico através do exame chamado eletromiografia e da ressonância magnética dinâmica (em movimento). Eles postulam que o problema atinge principalmente mulheres e é, na verdade, funcional, e não só anatômico, como se pensava há 30 anos.

Isso significa que a cada passo da corrida de rua, por exemplo, a mulher estaria sujeita ao valgo dinâmico? Sim. A fase inicial da corrida é chamada de absorção de impacto, no qual a energia cinética do contato do pé ao solo é absorvida através da contração muscular e da flexão do joelho. Havendo o valgo dinâmico, existiria um microtrauma de repetição que, a médio e longo prazo desenvolveriam sintomas como dor, desconforto e inchaço no joelho.

2. A preparação física

É o condicionamento físico para determinado esporte, realizado por um preparador físico experiente, e também é conhecida como periodização.

Para esportes que envolvem desaceleração repetitiva dos membros inferiores, como a corrida de rua, o trekking e o tênis, por exemplo, o treinador focará no fortalecimento excêntrico do quadríceps; ou seja, na capacidade do músculo anterior da coxa contrair contra a resistência a fim de se absorver energia cinética, poupando as articulações.

Para esportes como o futebol de campo, futsal e rugby, que envolvem mudanças bruscas de direção, o treinamento também envolve a melhoria da resposta neuromuscular, chamada pliometria. Exercícios pliométricos ajudam a desenvolver ritmo, velocidade, força e até resistência muscular. A pliometria, quando usada corretamente para um propósito específico, pode ser um atributo valioso para o atleta, bem como para o condicionamento geral e específico de todo seu programa esportivo.

3. Preparação técnica ao esporte

Realizada imprescindivelmente sob a tutela de um preparador físico especializado em determinado esporte, trata-se do conhecimento técnico do esporte que se deseja praticar e envolve as planilhas de treinamento, postura e progressão do indivíduo no esporte para ganho de resistência física ou para a competição.

Esta fase serve, basicamente, para que o treinador dose o desempenho do atleta no esporte a fim de se evitar sobrecargas de volume ou intensidade no treino. É muito comum que um corredor de rua que treina sem supervisão, por exemplo, corra 10 km a 20 km em dias seguidos e ao final de determinado tempo, desenvolva lesões.

Enfim, a conscientização do esportista de que a equipe multidisciplinar deve avaliá-lo e acompanhá-lo durante o período de treinamento evita lesões e pode maximizar o rendimento, fazendo com que o esporte atinja seu objetivo básico: a promoção de saúde.

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Globoesporte.com / EuAtleta.com.

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