Psicóloga fala sobre procrastinação

Psicóloga fala sobre procrastinação

Um dos atos mais comuns, e que incomoda a maioria dos indivíduos, é procrastinar. Postergar o tempo e esperar até o último minuto para realizar alguma tarefa, importante ou não, é um comportamento corriqueiro para muitas pessoas.

Daniara Wolf Kerkhoff, Psicóloga

A palavra procrastinar tem origem latina, sendo que “pro” significa para diante, adiante, ou em favor de, e “crastinus”, quer dizer do amanhã. Há muitos sinônimos para esse fenômeno: adiar, diferir, tardar, delongar, demorar, enrolar, espaçar, protrair, transferir para outro dia, portanto, deixar para depois algo que poderia ser realizado naquele momento. Destaca-se que a procrastinação não é o mesmo que não fazer nada, não sendo sinônimo de ócio. É simplesmente, realizar outras atividades menos importantes, no lugar da pretendida. As definições de procrastinação são variadas, porém possuem um núcleo comum, reconhecem que deve haver transferência ou retardo de uma tarefa ou decisão.

A procrastinação é o adiantamento de uma ação. No profissional, muitas vezes, a pressão acaba sendo o elemento que impulsiona a ação. Também as metas profissionais estão ligadas à ações mais concretas, que passam por um raciocínio lógico, aprendido na faculdade ou na experiência do próprio trabalho, facilitando desta maneira a execução do ato. Mas, dependendo do estado emocional do profissional, a procrastinação pode ocorrer e o estresse aumenta.

Para a Daniara Wolf Kerkhoff, Psicóloga, a pessoa, que na tentativa de aliviar qualquer incomodo provocado pelo ato de realizar uma ação, que para ela parece ser difícil, começa a empurrar ou a se convencer que mais tarde ou num outro momento terá condições mentais ou psicológicas para iniciar a tarefa. No entanto, quanto mais adia, maior o estresse e a cobrança e maior ainda se torna a barreira a ser superada. “Acaba que a situação gera uma luta interna, requerendo forças para que as tarefas sejam realizadas. De modo que possibilite sair do mundo do prazer para o mundo da realidade, ao qual nem sempre é tão prazeroso. Nos acompanha desde cedo e dependendo das experiências que recebemos de nossos cuidadores e das demais experiências que vem do mundo social, podemos ter mais facilidade ou não para superar os obstáculos internos e externos”, salienta.

Daniara acrescenta ainda que, para a psicanálise, adiar ações (procrastinação) é uma defesa emocional que tem origem na infância como forma de proteção, mas que leva a uma auto sabotagem. Uma pessoa que foi criada por outras pessoas muito autoritárias desenvolve um mecanismo de proteção contra o sofrimento e o medo.

Uma criança tende a se adaptar ao modelo opressor na tentativa de ser assertivo e receber menos punições. Ela passa a reprimir seus impulsos, desejos e sonhos por medo da consequência negativa que vem do outro. Como isso não muda o modo de agir do opressor, esta criança vai perdendo a força, o potencial de ação e a confiança no outro e nela própria, o que a longo prazo causa dificuldades na realização das tarefas. “Para que a pessoa consiga realizar as atividades sem procrastinar, é necessário uma grande força interna. Força essa que está diretamente ligada à confiança. Se recebemos um bom cuidado emocional na infância, desenvolvemos confiança em nós, no mundo e a autoestima se constrói de maneira eficiente. Caso isso não ocorra, muitas dificuldades emocionais se desenvolveram”, explica a psicóloga.

Outro ponto que se pode considerar é o desânimo, o qual está relacionado à perda da confiança em si mesmo e no mundo. O ser humano em si tem uma tendência muito grande de adaptação. Isso pode ser muito bom, porém quando esta adaptação ocorre em experiências dolorosas e difíceis, ficam presos num funcionamento repetitivo e patológico.

“Pessoas que funcionam neste modelo tendem a usar os acontecimentos em suas vidas ou no meio externo para justificar esse comportamento”, fala Daniara, sendo exemplos a falta de dinheiro, a corrupção no país, o jeito rude do parceiro ou do chefe, a violência etc. Isso ocorre porque todos esses eventos, que por si só geram sofrimento, também ativam memórias do passado, as quais estão carregadas de sofrimento e que foram “suprimidas”, por isso inconscientes, mas que continuam agindo no campo emocional provocando sintomas, sentimentos e reações.

Para quebrar com esse ciclo e modo de adiar as ações como sintoma recorrente é necessário identificar e cuidar dos aspectos psicológicos, conscientes e inconscientes, que levam a este modo de funcionar.

Podem existir diversas causas que decorrem a procrastinação, nomeadas, ansiedade em situações sociais, má gestão do tempo, dificuldades de concentração, crenças e pensamentos disfuncionais sobre si próprio e dos outros, falta de motivação, entre outros. No entanto, o primeiro passo para enfrentar a procrastinação é conscientizar-se, e a partir desse momento estabelecer objetivos claros e realistas no tempo. Identificar as estratégias de “evitamento” que está utilizando. Afastar o sentimento de culpa e conhecer melhor a si próprio, suas competências e seus recursos interiores, pode, sem dúvidas, ser um mecanismo de auxílio.

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