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Monólogo de um amigo do Roque Moos

Monólogo de um amigo do Roque Moos

Talvez devesse titular esta coluna como Crônica do Isolamento. Sim, me sinto hoje muito mais isolado do que nos últimos tempos. Perdi um dos poucos amigos. Ontem foi um dia trágico para a comunidade tuparendiense. Mais um acidente de trânsito nos levou um ícone, uma figura peculiar, o Roque Moos, meu amigo. Entusiasta por motocicletas, autoridade no assunto, admirado por legiões de motociclistas de toda a região. Figura símbolo no assunto. Conforme falou meu filho, Roque era uma pessoa acima de seu tempo, fora da curva na geração dele. Um líder, um intelectual, uma figura carismática. Inteligentíssimo.

Cheio de planos para o futuro, para sua família, para sua empresa. Faleceu ontem, aos cinqüenta e oito anos, num acidente idiota. Quarta feira, um dia antes de morrer, Roque estava em minha loja e, como sempre conversamos bastante. Tínhamos essa característica comum: falantes. Tínhamos apreço e respeito um pelo outro. Naquele dia eu disse, Roque, tu não trabalha demais? A resposta foi; Tu também é um trabalhador, Clóvis. Eu adoro trabalhar, admiro quem se dedica ao trabalho. Olha minhas mãos. E mostrou as mãos calejadas, arranhadas, mãos de um lutador. Trazia no seu reboque uma moto amarela, a moto dos Correios de Horizontina, que estava consertando. A mesma moto que pilotava quando morreu. E falava, falava uma conversa agradável. Era um sábio. Nunca criticava ninguém, era tão bom falar com ele. Iniciava as falas sempre dizendo: Deixa eu te falar uma coisa. E desandava a falar. Quantas vezes nos falamos, no Lions Clube, na loja, na rua. E eu hoje teria que te dizer uma coisa que não disse, tu foi uma grande pessoa. Lutou cada hora, cada dia pela tua empresa, pela tua família. Perdeu a batalha o lutador. Agora vai para o descanso absoluto. Mas leva contigo nosso respeito e admiração.

Tua morte nos faz refletir sobre o tempo e a vida que levamos. O significado da nossa existência, o conceito filosófico. Refletir na profundidade do espírito. A vida é o espaço entre o nascimento e a morte. Na maneira como se vive essa vida é que reside a diferença. E Roque Moos a viveu da melhor maneira. Há muito tempo não via comoção tão grande em uma comunidade. As pessoas estão macambúzias, tristes, aflitas, com medo. Apiedadas, sentimentais. Com quem se fala ouvimos lamentações. Pobre do Roque, difícil acreditar, ele não merecia, porque isso? Essas manifestações são o reflexo do que ele foi durante sua vida.

A comunidade chora, já sente saudades desse amigo. Peito sufocado. Obrigado pela tua passagem! Nesses momentos escasseiam as palavras, então faço uso de uma frase que era projetada ontem, durante o cerimonial da tua despedida. Foi uma mensagem que um dos teus milhares de amigos mandou. Dizia, entre outras palavras lindas, que tu foi uma lenda e que as lendas vivem para sempre. Genial!

Deixa eu te contar uma coisa, Roque. Que magnífica família tu ajudou a construir. Nunca vai sair de minha memória a imagem que presenciei ao chegarmos ao local das solenidades da tua despedida. A Arlete, desesperada, sendo abraçada e confortada pela Jaqueline, que dizia: precisamos ter força, mãe. Chorei. O Eduardo, ao lado, numa demonstração de equilíbrio emocional impressionante. Esse guri vai cuidar das coisas aqui embaixo. Vai ocupar teu lugar no que for possível. Ele está preparado. Vai sofrer mas vai dar uma sacudida e tocar a vida como tu gostaria. Não vai ser fácil mas eles precisam conseguir. Eles ouvirão o grito que vem do infinito: vamos em frente, à luta! Façam isso por mim! Fica com Deus, Roque Moos!

Por: Clóvis Medeiros

 

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