Esculhambação geral

Esculhambação geral

Há dias, gastava o sapato, caminhava pela Rua da Praia, como quem não quer nada. Divagava. Era domingo e sempre que vou à capital, faço isso. Observava mendigos dormindo no meio da rua, outros juntando comida na sujeira. Uma criança esquálida, magra como uma agulha, brincava com alguma coisa de plástico e que na sua imaginação deveria ser um ônibus, um caminhão. Parei, puxei conversa com o guri. Dei-lhe uns trocados e disse:___Vai comprar um xis. Ao lado, um sujeito, o pai, me dirigiu um sorriso. Notava-se que estava bêbado. Mas o mundo tem certa complacência com os bêbados. Não posso deixar de falar alguma coisa a respeito daquele ser humano. Era um sujeito magrela, talvez na casa dos sessenta anos. Aparência de muito mais. Mas era daquelas pessoas que transmitia simpatia, mansidão, paz, serenidade. Ria, mesmo sem a mínima razão para isso. Certamente era um cidadão de boa índole, vitimado pelas circunstâncias. Me contou que habitualmente ficava na Praça da Alfândega, vendo os outros trabalharem enquanto vadiava. Afinal, onde conseguiria trabalho, sem dentes, sem roupas, sujo. Um farrapo. A vida o havia destruído. Só faltava “bater com a cola na cerca”, como ele mesmo disse. Gervásio (que era como ele se chamava) agradeceu os trocados que dei a seu filho. Continuei minha via sacra pensando se eu ajudei a criança a comprar um xis ou o pai a comprar mais uma garrafa de cachaça.

Naquela altura do drama pouca diferença faria. Por ali impunha-se o desalento, o desânimo, a falta de perspectivas. Observei à volta prédios luxuosos, suntuosos, onde a nobreza reside ou multiplica suas rendas, tendo a seus pés os miseráveis. Que mundo cão. Onde a pobreza se instala de vez acabando por engolir social e materialmente seres humanos que poderiam ser iguais e não desiguais. Tanta renda gerada em nosso país poderia erradicar a miséria, como tanto ouvimos de políticos hipócritas, mentirosos, ladrões, sem escrúpulos. Temos petróleo, produzimos alimentos para exportação. Vejam a desfaçatez. Produzimos alimentos para exportar mas não temos esses mesmos alimentos para matar a fome de milhões de brasileiros. Falta competência, diria meu amigo Milton Waldow. Impera a ingerência administrativa. Além da inexplicável incúria. Há escândalos para todos os gostos e todos os gastos. É estarrecedora a miríade de mau exemplo do uso indevido do dinheiro público. Como esperar redenção social?

Então, falta dinheiro porque falta seriedade e muitas vezes competência. Temos administradores que não sabem administrar uma banca de jornal. Como vão administrar um orçamento de milhões? Rasgam dinheiro com supérfluos, de forma populista, demagógica, com pessoal desnecessário, para alimentar um estado enorme, caro, incompetente, burocrático. Temos que gastar bem, com investimentos programados. Não suportamos mais altas taxas de juros, alta carga tributária. Os investimentos estão paralisados, a economia está estagnada. Negligenciaram total. Vivemos uma paranóia administrativa. Resultado: a decomposição social. Nos acostumamos a dizer que o Brasil é o país do futuro. Será que aquela família da Rua da Praia pensa assim?

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