Muitas vezes se pergunta o que pode ser feito com a lã da ovelha. As respostas a esse questionamento foram múltiplas durante a fase estadual do Concurso Virtual de Artesanato em Lã Ovina, promovido pela Emater/RS-Ascar, durante a 44ª Expointer, na última sexta-feira (10/09). A Regional de Santa Rosa esteve representada por três artesãs, que apresentaram a versatilidade e a beleza de peças elaboradas a partir da lã ovina de São Miguel das Missões e de Garruchos.
As peças receberam visibilidade nacional e concorreram com artesãos oriundos de 22 municípios, vinculados a oito regiões administrativas da Emater/RS-Ascar (Bagé, Caxias do Sul, Lajeado, Pelotas, Porto Alegre, Santa Maria, Santa Rosa e Soledade), representando saberes em uma diversidade de técnicas, como tecelagem em fiação totalmente manual, tecelagem com fiação de lã top, tricô com fiação totalmente manual, tricô com fiação de lã top, crochê com fiação totalmente manual, crochê com fiação de lã top, crochê jacquard, feltragem com processo totalmente manual, feltragem com lã top, acolchoado e outras técnicas ou técnicas mistas. A artesã Dalva Pereira Motschi, de São Miguel das Missões, participou de 10 das 11 modalidades, e as artesãs Jociele de Deus Santos e Carmem Elizabete Ferreira Gazano, da Associação Mulheres Integradas de Garruchos, estiveram presentes em três modalidades.
Na escolha realizada pelos jurados, sem conhecimento da autoria das peças, Dalva foi vencedora em três categorias. Na tecelagem com fiação em lã top, encantou com o pala masculino de lã naturalmente colorida, fiada em roca, tecido em tear pente liço, com detalhes em feltragem agulhada; na categoria crochê com fiação de lã top, apresentou uma colcha de solteiro com lã naturalmente colorida e quimicamente tingida, fiada em roca; e em técnicas mistas surpreendeu com a manta de pompons de lã crua e naturalmente colorida, tecida em tear, com acabamento em crochê e detalhes em feltragem agulhada, imitando uma ovelha. “Tenho uma gratidão enorme pela Emater, que me apoiou na participação em diferentes promoções sobre a lã no Estado, entre elas, o concurso. Penso que a visibilidade que ele promove permitiu que a lã ovina retornasse às rodas de conversa e ao debate no Estado”, ela ainda destaca que “o formato virtual, com acesso atemporal e sem fronteiras, coloca o trabalho que já estava sendo esquecido na vitrine nova mente, permitindo que sua visibilidade ultrapasse o local e abra uma janela para o mundo”.
A artesã já havia participado da primeira edição virtual do concurso, promovida em 2020, e salienta que a participação permitiu que ampliasse também sua produção, contando desde então com o apoio da também moradora de São Miguel das Missões, Silvana Oliveira, que com os ensinamentos de Dalva tem evoluído na técnica de transformação da lã e sido uma importante parceira no desenvolvimento de peças.
Porque incentivar o artesanato em lã
O trabalho de fomento e incentivo, com promoção do artesanato em lã ovina, reconhece sua importância na cadeia da ovinocultura gaúcha e na preservação da identidade cultural. Conforme o diretor técnico da Emater/RS, Alencar Rugeri, o artesanato está no DNA da Instituição, desenvolvendo este trabalho há décadas, contando com a parceria da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural. É justamente, neste sentido, que o presidente da Emater/RS, Edmilson Pelizzari, reconhece que a transformação da lã em peças com diversas funções permite a representação de diferentes culturas e resgata saberes, com o apoio de diversas parcerias locais.
Da mesma forma, a coordenadora de Artesanato da Emater/RS-Ascar, Ivanir Agenta, destaca que esses artesãos são guardiões de conhecimentos ancestrais, que devem ser valorizados e preservados. O artesanato abre ainda caminhos para muitas famílias ampliarem sua geração de renda.
Muitas das peças participantes do Concurso apresentaram designs contemporâneos, mostrando a evolução do artesanato, outras também permitiram resgatar o tradicional e recuperar memórias afetivas.