A neve no dia 20 de agosto de 1965, a impressão que permanece

A neve no dia 20 de agosto de 1965, a impressão que permanece

Notícia publicada na edição impressa em agosto de 2018

Em alguns países do mundo, e até mesmo em outras cidades do Brasil, cair neve é algo bastante natural e não gera mais nenhuma empolgação. Mas, para aqueles que moram em um local que é frio, porém não passa disso, a euforia por ver neve é grande, e por isso, o dia 20 de agosto de 1965 ficou marcado na história de Santa Rosa.

A lembrança da data vem à tona, sem falar na vontade das pessoas de conhecer e sentir a sensação dessas partículas de gelo, que é bem grande. Ouvir relatos de quem viveu essa experiência ajuda a matar a curiosidade. Oldemar Timm tinha apenas 12 anos, todavia, se recorda como se fosse ontem. “Começou a cair neve à tardinha, por volta das 17 horas, eu estava em casa e lembro que o chão ficou forrado, era muito bonito de ver, estava tudo branco e chegou até meio metro de altura. O céu estava cinza, parecia cerração. Meus pais eram muito rígidos, e por conta de ser muito frio, eles não deixaram eu sair para brincar, mas mesmo assim valeu a pena ver. A noite estava clara por conta da neve, pode-se assim dizer, os telhados estavam todos tapados também. Sem dúvidas, foi um momento único e marcante. Muito lindo”, relembra.

E não só ele, várias outras pessoas apontam que foi muito mágico. Helga Keüger Vettorato, professora aposentada, afirma que o dia foi digno de um cartão postal europeu. “O dia amanheceu não muito diferente de outros, mas o frio foi se intensificando e aos poucos começaram a cair pequenos flocos brancos que deixaram as pessoas atônitas a observar com curiosidade o que estava ocorrendo; estavam a admirar o espetáculo até que concluíram que se tratava de neve. Sim, estava nevando em Santa Rosa! Eu tinha 19 anos, era professora e trabalhava na Escola Estadual de Esquina Candeia, interior da cidade, onde eu morava. Lecionava à tarde, porém os professores do turno da manhã dispensaram os alunos e enviaram recados que eles deveriam ficar em casa. A paisagem, aos poucos, foi se modificando, ficando diferente, branca, linda! Em frente à casa da família com quem eu morava tinha uma ala de pinheiros. Os seus galhos, quase na horizontal, foram acumulando neve e ficando cada vez mais charmosos. A neve foi tomando conta da calçada, da grama, da lavoura e dos telhados. Eu quase não saí de dentro de casa, e corria de uma janela à outra, encantando-me com a inusitada beleza. O pastor da Igreja Batista, lá da vila, era oriundo da Alemanha e talvez tenha sido a pessoa mais extasiada com o evento, pois lembrava a pátria distante. Andava de casa em casa, com largo sorriso no rosto, fazendo comentários e dando explicações do fenômeno. Com sua máquina fotográfica a tiracolo, ia registrando os momentos e as paisagens. Era, por certo, a única pessoa que possuía naquele local esse equipamento, hoje tão comum e disponível a todos. O município e região foram brindados com essa forte nevada, única nessa proporção. Foi realmente algo diferente, fantástico e que ficou gravado na história de Santa Rosa e permanece até hoje na lembrança de quem vivenciou esse dia memorável. Como os registros fotográficos são poucos, as imagens precisam ser pinçadas na memória e elas vêm à tona ainda com o mesmo deslumbre! Aos poucos, meu semblante é invadido por
uma sensação de nostalgia ao lembrar-se de um tempo tão distante e de um dia de tão rara beleza”, relata Helga.

Relembrar momentos como esses são muito importantes, tanto para aqueles que ouvem as histórias, quanto para os outros que contam. Saber que Santa Rosa já foi afortunada por esse momento inigualável dá um pouco de esperança de que o fenômeno se repita em algum dia desses.

Fotos: Acervo das famílias Kontarski, Vilyklaus, Rosa Amélia Klein

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