Aqui estou de peito estufado, como todo o baixinho, contando que cheguei de mais uma viagem ontem. Vou escrever sobre um assunto longo. Não caberia numa crônica curta, portanto, vou distribuir minhas idéias em dois artigos. Ao tema. Viajar é fantástico, te torna auto-confiante, autodidata, aumenta o conhecimento e isso nos torna mais seguros. Viajar não é luxo, é investimento em bagagem cultural, em saúde, é lazer, é recarregar as baterias, melhora nossa capacidade de relacionamento, quebra a rotina. Nos proporciona conhecer novas culturas, costumes, comidas, línguas, músicas, arquitetura, outros povos. O mundo tem lugares lindos. A gente se surpreende a cada passeio. Certa Revista especializada no assunto insiste em dizer que a praia mais bonita do Brasil é Porto de Galinhas, em Pernambuco. É linda mas vi outras tão lindas quanto. É questão de ponto de vista. Nossos olhos vêm novos lugares com um misto de estranheza, fascínio, curiosidade, surpresa. E nosso Brasil é enorme. E o resto do mundo, então! O turista tem que ter sutileza, inteligência, perspicácia para conhecer bem os lugares que visita. Não basta fazer centenas de fotos, tomar cerveja e depois voltar para casa dizendo: conheço tal lugar. Conhece nada. Aprendi que se deve permanecer um pouco mais de tempo em cada lugar. Como dizer que conheceu Salvador se não foi ao Pelourinho, igrejas, cidades históricas em Minas, esculturas do Aleijadinho, Chapada dos Guimarães, Lençóis maranhenses, rio São Francisco, rio Amazonas, Foz do Iguaçu, Olinda, Pão de Açúcar. Existem lugares fantásticos. Temos que conhecer, pelo menos, alguns.
Temos muitas das praias mais bonitas do mundo. Areias brancas, mar azul ou verde que não perde para o Mar do Caribe. Acho que é por isso que os nativos gostavam tanto de morar à beira do mar. Se você gosta de barulho, agitação, vá para a praia de Copacabana. Se quer silêncio, contato com a natureza, vá para Morro de São Paulo, na Bahia, onde não tem nenhum carro circulando.
Viajar exige planejamento financeiro, claro. Exige definição de roteiros, restaurantes, hotelaria, transporte. Uma coisa é certa, está mais fácil fazer caber no orçamento nosso plano de fazer turismo. Passagens aéreas, embora estejam bastante caras, podem ser parceladas Hotéis também. O ideal é começar a pagar meses antes e quando chegar a data do passeio a despesa maior está quitada. É possível viajar de modo econômico, reduzir gastos, tanto na escolha dos hotéis como dos restaurantes.
Um fator crucial é a escolha das companhias, não convide pessoas com quem não tenha absoluta afinidade, afetividade, respeito. Sua viagem só será agradável se em companhia de pessoas que lhe sejam agradáveis, amigos verdadeiros. Boas companhias te fazem feliz. Grupos reduzidos qualificam o roteiro. Nem sempre a escolha de pontos a serem visitados são unanimidade de interesse para todos os componentes do grupo. Assim ocorre com a escolha de restaurantes e pratos. E não esqueça que a gente viaja para desestressar, o bom humor tem que ser imperativo durante e depois.
Ás vezes saímos da zona de conforto quando deixamos nossa morada. Temos que estar preparados para mudança de hábitos alimentares, precisamos relaxar, nos divertir, estar preparados para outras culturas, interferências externas. Relaxe, seja sua própria companhia, faça sua reflexão, aproveite para se amar, se conheça melhor. Aproveite cada minuto, interaja com os povos locais, aprenda, traga lembranças boas. A sua auto estima vai melhorar. Vai ter histórias para contar, vai melhorar seu auto-conhecimento, sua visão de mundo vai se expandir. Porque não aproveitar a vida como ele é? O mundo é dos viajantes como o céu é dos passarinhos.
Conforme vos narrei, voltamos recentemente de um giro num país da América do Sul. Fui acompanhado da esposa, do meu filho e da minha nora. Tenho orgulho imenso desse grupo. Consegui dar uma formação relativa para meus filhos e isso exigiu alguma abnegação e dedicação. Mas valeu a pena, eles tiveram competência para aproveitarem. Então hoje ganhei companheiros leais de viagens. Cultos, amigos, parceiros.
Conforme vos falei, costumamos permanecer nos locais visitados por determinado período, o suficiente para o conhecermos melhor. Assim o fizemos com a Colômbia em outra oportunidade e agora com a Bolívia. Voamos para Santa Cruz de La Sierra onde permanecemos por uma semana. Preços em conta, roteiros culturais e gastronômicos. Certamente o visitante será atraído pelo estômago. Os preços são relativamente convidativos. Um litro de gasolina custa R$ 2,70 mas como o país é auto suficiente em gás, a maioria dos veículos é abastecido com esse combustível. O trânsito de lá é único. Os motoristas pedem passagem através da buzina. Ao se aproximarem de uma esquina, todos pedem passagem buzinando. O que entrar primeiro tem a preferência. Mesmo assim não presenciamos nenhuma colisão. Construções históricas como a Igreja matriz é digna de visitar. Cidade limpa, lindas praças, paisagismo perfeito. Casarões tombados, onde viveram figuras importantes daquele país. Vi muitas Universidades estrangeiras, coreanas, americanas. Outra coisa que me chamou a atenção foram os estudantes, crianças, todos uniformizados.
Nos deslocamos para a capital, La Paz. Uma cidade com 830.000 habitantes. Desenvolveu-se num vale, cercado por penhascos, montanhas, quase inexpugnáveis. Não para eles. As pessoas foram construindo casas nas encostas. Deslocam-se através de teleféricos, os quais descem e sobem incessantemente, cobrando valores baratíssimos. No topo da montanha desenvolveu-se outra cidade, maior que La Paz, El Alto, hoje com uma milhão e trezentas mil pessoas. Ali existe a maior feira a céu aberto da América. O comércio naquela área funciona na rua. Tudo é vendido na rua. Roupas, calçados, alimentação, frutas, curiosidades. A população é muito pobre, o país produz muito pouco. Somente quinze por cento da sua renda advém da agricultura, baseada em batata, milho, quinua, um cereal usado na alimentação, quase tudo produzido para subsistência. Terras impróprias para agropecuária, chove pouco, áreas montanhosas, acidentadas. Clima semi-árido, só chove entre Dezembro e Março, o resto do ano é seco. A precipitação média é de 700 mm por ano. No RS é de 1.400. Poucos animais sobrevivem a parca alimentação, deficiência de água. Alpaca, lhama. Havia a vicunha, que produzia uma pele muito procurada para fazer roupas para mulheres com nível econômico mais alto. Em função dessa procura os animais foram praticamente exterminados, dizimados.
Visitamos a Praça Del Gobierno, prédios lindos, tanto o da Presidência da República quanto o do Congresso Nacional, sem falar na imponente e centenária Igreja Matriz. Havia um protesto de campesinos em frente ao Palácio. Soubemos, à noite, que foram dispersados por bombas pela guarda nacional. É um país tenso, comandados por ex guerrilheiros, cocaleiros, de esquerda. Muitos policiais fortemente armados, nas ruas.
Nos deslocamos para Copacabana, Lago Titicaca, 150 quilômetros distante de La Paz. Passamos por vilas ta pequenas que nem nome tinham ainda, muitas pessoas caminhando à pé, ao longo da rodovia, algumas pedindo esmolas, pobreza, muita pobreza. Fomos conhecer a Ilha Del Sol, sagrada para os Incas, onde realizavam as solenidades religiosas ao Deus Sol, antes de serem exterminados pelos invasores espanhóis. O Lago Titicaca é o lago navegável mais alto do mundo, 4.800 metros de altitude. Minha esposa teve problemas cardíacos, a pressão arterial marcou 22×11, devido a altitude. Chá de folha de coca não resolveu o problema.
Viaje. Nunca é tarde. Cora Coralina escreveu seu primeiro livro aos 75 anos. A gente não fica velho por ter vivido certo número de anos e sim por ter desistido dos nossos sonhos. Ganhe a estrada, ganhe altitude!