A ciência está trabalhando arduamente para ajustar os testes sorológicos que permitirão saber quem contraiu o coronavírus e quem é imunizado a priori, uma questão-chave quando se trata de acabar com o confinamento. “Essa sorologia é esperada por todos nós no mundo todo”, disse o ministro da Saúde da França, Olivier Véran. “Toda a pesquisa global está focada” nesses novos testes, acrescentou Véran. Ele estimou o tempo de espera em “alguns dias ou, no máximo, algumas semanas”.
Por enquanto, existem testes genéticos chamados RT-PCR que permitem saber se um paciente está infectado com Covid-19 no momento em que é realizado. Já os testes sorológicos permitem saber se o indivíduo esteve em algum momento em contato com o vírus. Para isso, “se detectam os anticorpos, ou seja, a resposta que o sistema imunológico forneceu”, explicou o Dr. Andrew Preston, da Universidade Inglesa de Bath.
Esses anticorpos são de dois tipos, acrescenta: “A IgM que corresponde às imunoglobulinas M que são produzidas inicialmente” e as “IgG (imunoglobulinas G), que são produzidas posteriormente”.
Avaliação e generalização
Essa análise posterior, já utilizada para outras doenças, é crucial, pois a maioria das pessoas infectadas pelo Covid-19 apresenta sintomas muito leves ou mesmo nenhum. Quando esses testes estiverem prontos, poderão ser feitos de forma generalizada em qualquer laboratório médico.
Dessa forma, serão muito úteis para determinar quem poderá sair do confinamento atualmente aplicado em muitos países para interromper a pandemia. “A questão central é como garantir a segurança de todos para o retorno ao trabalho”, disse à AFP o médico François Blanchecotte, presidente do sindicato francês de laboratórios de análises.
Na Itália, o presidente da região de Veneza, Luca Zaia, propôs dar uma “permissão de trabalho” para aqueles que obtiverem resultados positivos, garantindo que sejam imunes e não sejam contagiosos.
Na Alemanha, também está sendo estudado um certificado para pessoas imunizadas, de acordo com Gérard Krause, do Centro Helmholtz de Pesquisa de Doenças Infecciosas, citado pela Der Spiegel.
“Um clínico-geral me disse que se fizesse um teste sorológico que apontasse sua imunidade, ele ofereceria seus serviços” ao hospital “sem ter medo”, relatou Philippe Hérent, médico e diretor-geral da Synlab Opale, um grupo de laboratórios no norte da França.
Depois de encomendar 2 mil testes sorológicos há várias semanas, Hérent garantiu à AFP que ele havia recebido “uma pequena parte” de fornecedores americanos e italianos, e que estava avaliando-os. Ele também teme o risco de escassez: “A demanda mundial é enorme e a produção é limitada”.
Limites
Os testes sorológicos também têm vários limites. “Se usado muito cedo, antes da produção de anticorpos, o paciente ainda pode ser portador do vírus e contagioso”, alerta Michael Skinner, do Imperial College London. Por esse motivo, especialistas como Maurizio Sanguinetti, infectologista da Fundação Gemelli em Roma, defendem o uso de ambas as técnicas, RT-PCR e sorologia.
Outro problema com esses testes é a falta de certeza sobre a imunidade adquirida. “Não podemos ter 100% de certeza de que, se um teste detectar os anticorpos, isso significa que a pessoa está imunizada”, segundo Preston, embora esse seja o caso da “grande maioria das doenças infecciosas”.
Por outro lado, esses testes oferecerão “uma imagem muito mais precisa da escala da pandemia”, segundo a OMS.
Devido à falta de exames e ao fato de grande parte dos pacientes infectados serem assintomáticos, não se sabe quantas pessoas estão infectadas no mundo, embora se calcule que o número seja muito superior aos quase milhões de casos atualmente confirmados.
Fonte: Correio do Povo