Ao refletir sobre “o pai”, ou a quem se designa esse papel como figura substituta, nos deparamos com algumas questões que servirão de base para compreendermos o seu papel diante do processo de estruturação do psiquismo infantil. É ele, o “pai”, que deve sustentar sua presença diante do filho, antes mesmo de seu nascimento. Rufo reforça que: “Toda criança teria de ter a impressão de que, já desde antes de seu nascimento, seu pai estava presente perto de sua mãe, que está nunca ficou sozinha e que, por conseguinte, ele nunca foi o único objeto de seu amor.” (2007, p.32) A figura do pai é determinante na transmissão de modelos e identificação, é ele quem apresenta arquétipos a serem imitados, como as regras, a lei, o desejo e também as incertezas de que se possa ter garantias sobre as escolhas e fatos da vida.
Desde Freud, a função paterna sempre teve no centro das discussões psicanalíticas a sua presença, física e afetiva que é de fundamental importância no processo de subjetivação da criança. A função paterna, enquanto função de mediação entre a mãe e o bebê, ampara a mãe no reconhecimento de seu bebê, em uma dimensão de sujeito. O “pai” precisa sustentar a mãe em sua maternagem, oferecendo estrutura emocional, amparando e apoiando ela diante das dificuldades da maternidade.
Além de presença, “o pai” é de fundamental importância no processo de separação e individualização, mãe-filho, precisa operar no campo simbólico como um interdito dessa díade, evitando assim que a mãe permaneça fusionada com seu filho. Reforçando, o “pai” precisa ser o representante da lei, a “Lei do Pai” ou “Nome do Pai”, conforme Lacan. (1953) Ele enfatiza um pai concreto e operador da ordem simbólica que transmite ao filho os valores socioculturais na qual fazem parte. O “pai” também precisa ser um frustrador, afinal ele é lei que opera na colocação de limites, regras e responsabilidades, que embora dolorosas, sejam necessárias para um vir a ser de seu filho. Ele, o filho, precisa viver as dolosas, porém necessárias passagens, do princípio do prazer-desprazer, onde tudo era conquistado pelo outro, tudo a ele era permitido, facilitado e acessível, para o princípio da realidade, onde vai compreendendo-se como alguém capaz de conquistas, aos poucos vai adquirindo autonomia e gradativamente vai introjetando leis e normas que configuram uma sociedade.
Para que tudo aconteça conforme as considerações elencadas, ainda, a função paterna necessita de endereçamentos, de um horizonte de possibilidades, onde o lugar do “pai” tenha voz e vez, onde tudo isto possa ecoar positivamente e significativamente na história de vida do sujeito que ali se constitui. Esta vez e voz darão sentido e se perpetuarão, caso a mãe, ou quem desempenha tal papel, lhe conceda lugar de força, lei e segurança no campo afetivo e simbólico.
O “pai”, conquistado esse endereçamento, irá possibilitar um adequado continente para as necessidades dos filhos, aliado é claro, a segurança e estabilidade que ele proporciona a mãe, na educação e promoção do crescimento físico, cognitivo e psíquico dos filhos.
Ser “pai” é um vir a ser, é permitir-se compreender o seu papel, é favorável saber como foi sua vinculação pai-filho, bem como a representação da configuração familiar da esposa, qual o lugar que o pai ocupa na ordem do desejo e representação? Diante da concepção da transgeracionalidade, o que se está produzindo e recriando a partir das repetições? Somos frutos de histórias, sejam elas agradáveis ou não, cabe a nós repetirmos ou nos reinventarmos. Fica a reflexão!