Por: Amonega de Fátima Comis
Licencianda em Ciências Biológicas
A Sequoia, uma das árvores mais fascinantes da terra, faz parte do imaginário humano, devido ao esplendor de seu porte e sua longevidade, podem alcançar milênios, de 1800 a 2700 anos (RECCE, 2015). Hoje existem apenas remanescentes (5%) de florestas dessas gigantes lendárias, na Califórnia (EUA), são testemunhas e sobreviventes da história humana, seus avanços, suas tecnologias e dificuldades (MAU, 2014). Sementes desta planta fizeram parte da expedição à Lua, na Apollo 14 (Nasa) em 1971, integrando o projeto The Moon Trees (As Árvores da Lua), o qual avaliou possíveis efeitos da alta radiação e da gravidade zero no processo de germinação e crescimento das plântulas. Uma destas plantas cresce na cidade de Santa Rosa, Rio Grande do Sul, há 37 anos (ALVES, 2017). Este exemplar em solo Santa-rosense, traz reflexões, a cerca de sua história, sua ocorrência neste local, suas características morfológicas e os esforços em torno de sua reprodução a nível local e mundial. Diante de todo contexto envolvendo este singular ser vivo, desenvolveu-se esta pesquisa exploratória, um estudo de campo, através de instrumento de coleta de dados aplicado aos engajados na obtenção da muda, seu cultivo, reprodução e realização do filme sobre a Árvore Lunar, a fim de conhecer os elementos que fazem dele um atrativo científico, ecológico e cultural. Todos os fatores envolvendo a planta, confluem para o despertar de uma consciência ecológica: contribuem na preservação da espécime, alteando sua importância para o meio ambiente (dentre tantos motivos) por ser um importante depósito de carbono (C) e coadjuvar com o eco sistema em seu entorno. Esta planta constitui-se em elo entre natureza, tecnologias, meios de comunicação e os seres humanos, ao despertar ânimos a ponto de ser desenvolvido um filme no qual a árvore lunar será a protagonista.
As sequoias pertencem ao Filo Coniferophyta (do latim conus, cone e ferre, carregar), possui estruturas reprodutivas em forma de cone, é o filo mais numeroso das gimnospermas atuais (do grego semente, sperma e nua, gymnos), suas sementes são nuas, não possuem frutos. Este Filo contém a planta vascular mais alta da Terra, uma sequoia (Sequoia sempervirens), pertencente à família Cupressaceae, chega a atingir 115 m de altura com diâmetro de aproximados 10 m (HAVEN, 2016).
Originárias do clima úmido e frio das florestas pluviais temperadas da costa litorânea Californiana e sudoeste do Oregon (EUA), região com intensos nevoeiros, o termo Sequoia é homenagem a um mestiço cherokee (Sequoyah). A Sequoia sempervirens, possui alguns detalhes que a diferencia da Sequoiadedrum giganteum, como o tamanho, formato e consistência de suas estruturas reprodutivas masculinas e femininas chamadas estróbilos. As folhas são lineares ou lanceoladas, pequenas de até 2,5 cm de comprimento, verde-escura na face adaxial (superior) e duas faixas mais claras na face abaxial (inferior), com filotaxia alterna. Além de seu porte espetacular, outro aspecto que acrescenta ainda mais beleza à Sequoia sempervirens é sua casca, com espessura de até 60 cm (em planta adulta), protege contra incêndios e invasão de microrganismos patogênicos (como fungos) e sua coloração avermelhada confere o nome popular de Redwood (MARCHIORI 2005).
Ocorrência da Árvore Lunar em Santa Rosa: partícipe do fato, Nilson Fortunato Guidolin, relata que em 1981, o município de Santa Rosa RS, completava 50 anos e seria realizada a quinta edição da Feira Nacional da Soja ( Fenasoja). Uma comitiva de autoridades Santa-rosenses, ( a qual compunha como presidente da Feira), juntamente com o prefeito municipal, Antônio Carlos Borges, entre outros, visitou o então Presidente do Brasil, João Baptista Figueiredo, com objetivo de convidá-lo a prestigiar a 5º Fenasoja. O convite fora aceito, e ainda receberam de presente uma das mudas de Árvores da Lua, que o Brasil recebera dos Governo Americano; ficou acertado que na ocasião plantariam o exemplar da planta, juntamente com Mauro Silva Reis, presidente do IBDF (que a disponibilizou); o plantio fora concretizado no dia 13 de agosto de 1981 no Parque Municipal de Exposições deste município. O entrevistado enfatiza ainda que “Santa Rosa, abriu fronteiras agrícolas, e por sua consciência ecológica desde 1970 tem a cultura de plantio de árvores; o plantio desta árvore, faz desta cidade o berço da Árvore Lunar além de já ser considerada o berço Nacional da Soja, nos religando aos EUA ”.
Reprodução da Sequoia Sempervirens: conforme citado por Recce, 2015, quanto à reprodução as sequoias podem ser: sexuada, na qual são monóicas, na mesma planta formam-se os estróbilos masculinos e femininos, que darão origem às sementes, que ao germinarem originarão outros indivíduos com características próprias; assexuadas, produzindo cópias exatas de si mesma, a partir de mitoses das células de um indivíduo parental, a planta faz cópia de todos os seus genes para sua prole, a qual será geneticamente idêntica ao progenitor, dando origem a clones.
São feitos esforços a nível mundial para reprodução desta planta, a Archangel Ancient Tree Archive (Arquivo Arcanjo Árvore Antiga), uma organização americana, sem fins lucrativos, reproduz as árvores mais antigas do mundo. O grupo é formado por veveiristas, arboristas, alpinistas, educadores, entre outros colaboradores, dedicados em pesquisar, propagar, reflorestar e arquivar em bibliotecas vivas o material genético para futuras gerações, em todo o mundo; contam com laboratórios para pesquisa e reprodução, a grandes custos financeiros, mantidos por doações. Os arboristas reproduzem as sequoias com técnicas de clonagem consideradas inviáveis pela comunidade científica, atingindo ótimos resultados através de material genético obtido de árvores antigas (US, 2019).
Em Santa Rosa, como relatado pelo professor Vilson Cembranel, o primeiro desafio foi manter a planta viva, pois além de estar fora de seu habitat natural, as condições que fora mantida inicialmente eram mito impróprias para o seu desenvolvimento, desde aporte de água, alimento, iluminação e proteção do local. O segundo desafio, foi conseguir a reprodução da planta, que é feita aos moldes americanos, porém sem nenhuma ajuda financeira ou laboratório para pesquisa. O esforço e dedicação do professor Vilson, considerado salvador da árvore, conhecedor de botânica, agronomia e jardinagem lhe permitem gerar mudas de plantas conhecidas, porém a Sequoia constituiu-se um desafio, pois muitas tentativas foram frustradas; após 2 anos de experiências conseguiu os primeiros êxitos, hoje já com centenas de mudas obtidas.
Filme sobre a Árvore Lunar: o diretor de cinema Leandro Marcondelli nos revela que já havia vindo à Santa Rosa para um trabalho publicitário e ao conhecer o episódio “Árvore Lunar” interessou-se em produzir um documentário sobre o tema. Diz Marcondelli que ao saber do Projeto santa-rosense, Cinema de Verdade, candidatou-se com roteiro para um filme, “foi bem aceito e conseguimos patrocinadores importantes para a realização”. A motivação para o filme vem do “fato de ser uma árvore que, desde sua origem como semente, passou por uma viagem extraordinária desenvolvida pelas incríveis realizações do ser humano”, o comprometimento ambiental e a consciência ecológica dos envolvidos nos fatos. A Sequoia é uma árvore das mais resistentes e longevas existentes, resiste a incêndios e à neve, tem o homem como seu único destruidor assim como também seu salvador. “Mostra a importância que o ser humano tem, pela sua própria existência, e se doar pela sobrevivência de uma árvore simbólica como esta, é exemplo de perseverar nossa própria espécie e história de nossos feitos incríveis. A Árvore Lunar marca o início de uma consciência ecológica no final do milênio passado em Santa Rosa, plantar e cuidar esta planta permite viver plenamente nossa existência, somos também um organismo vivo do planeta Terra, constituímos esse corpo celeste único, por isso necessitamos buscar o equilíbrio entre homens, uns aos outros e com a natureza”.
Identificação da Espécime: durante a realização das pesquisas para este artigo verificou-se que a Árvore Lunar de Santa Rosa, não possui placa de identificação, esse fato oportunizou a identificação da espécime, a partir de material coletado no solo em volta da árvore, enviado para a bióloga Vera T. Rauber Coradin, Doutora em Ecologia, pesquisadora no Laboratório de Produtos Florestais LPF do Serviço Florestal Brasileiro, Representante do comitê de Flora da Conservação Internacional de espécies Ameaçadas de Extinção ( CITES) da América Central, do Sul e Caribe, que tratou de providenciar a identificação da planta junto ao botânico americano Damon Little, especialista em Coníferas do New York Botanical Garden, por identificação morfológica constatou, que de fato trata-se de uma Sequoia Sempervirens. A partir desta confirmação será confeccionada uma placa de identificação para esta Árvore Lunar, análoga a que existe em Brasília, um Liquidambar styraciflua, na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
A Sequoia Sempervirens possui características morfológicas inigualáveis, que a torna um dos seres vivos mais atraentes, principalmente seu porte, resistência e longevidade. O exemplar existente em Santa Rosa tem ainda por particularidade, ter participado de uma expedição à Lua.
Os esforços em torno de sua reprodução são intensos e estão dando resultado, seja com altas tecnologias ou de forma simples, como é realizado em Santa Rosa.
A ocorrência da planta neste Município se deu de forma espontânea, através do comprometimento de cada um dos personagens envolvidos, com o desencadeamento de sucessivos episódios históricos, até sua doação para esta comunidade.
A Sequoia como testemunha da história humana, sua busca pelo conhecimento, suas tecnologias, seu percurso da Terra à Lua, dos EUA à Santa Rosa, até chegar às telas do cinema, deixa como legado um elo entre o homem e o meio ambiente, nos mostra que todos temos nosso papel nessa história e está em nossas mãos decidir como iremos atuar, como colaboradores ou destruidores.