O título do artigo de hoje não é o mais adequado, reconheço, mas é o que minha criatividade conseguiu produzir. Fosse, no entanto, Tive de abater uma árvore, que é o que ocorreu, cairia na vala comum haja vista que eliminar árvores, no Brasil, do seu descobrimento até hoje, tem sido uma constante. No meu caso, porém, antes de ser condenado sumariamente, esclareço: (i) eliminei uma árvore exótica; (ii) a árvore eliminada fora por mim plantada há 40 anos, no terreno da minha casa; (iii) ao longo da vida plantei centenas de árvores. No caso, outrossim, só me vali da drástica medida para evitar um mal maior. Em suma, sacrifiquei uma árvore que por décadas forneceu sombra refrescante e frutos saborosos, e foi palco para concertos de pássaros, porque passou a ser ameaça à minha casa e às pessoas nela residentes. Falo de uma mangueira, espécie originária da Ásia, aclimatada no Brasil, inclusive no frio do RS.
Dilema semelhante havia vivido há três anos com um pinheiro, que também plantei no meu pátio. Há 40 anos, tal qual a mangueira, era uma frágil mudinha, tanto que quando a levei à terra, impulsionado pelo desejo de arborizar, ignorei que ela cresceria. Mas cresceu. Adulta, apresentou sua face menos afável: seus frondosos galhos, com o vento no alto (20m) mais intenso, passaram a danificar a casa vizinha. Como espécie protegida, para o pinheiro tive de obter licença da Prefeitura – a princípio, para eliminá-lo. Porém, ao formalizar o pedido, a dúvida: eliminá-lo ou podá-lo? Fiz, então, alternativamente, dois pedidos, que foram deferidos. Na hora da execução, prevaleceu a preservação: optei pela poda, o que resolveu, ainda que temporariamente, o problema.
Agora, no entanto, o desfecho foi diferente. Aliás, também diferente foi não precisar de licença para tanto porquanto a mangueira não é espécie protegida. Ademais, o direito à vida tem prevalência sobre a preservação de uma árvore, mormente quando o bem que se gostaria de continuar vendo em pé passa a ser ameaça. Mas antes que ecologistas de plantão se ouricem, esclareço: tenho consciência de que, sem as árvores, estaremos condenados, posto que reduzem o mau cheiro e o barulho das cidades, absorvem o gás carbônico e liberam oxigênio, melhorando a qualidade do ar. No entanto, a nobre função das árvores não submete ninguém à escravidão.
Hoje, Santa Rosa é uma cidade bem arborizada. Mas nem sempre foi assim. Até os anos 1960/70, o meio ambiente não era pauta dos governos dos municípios, estados ou União. Foi natural, por exemplo, para o ex-prefeito Alvírio Scalco (1969/1972), ao asfaltar (o 1º prefeito a asfaltar ruas da cidade) a Av. Rio Branco, arrancar todas as árvores do canteiro central da principal via pública, porque, segundo ele, na época, as árvores atrairiam umidade, o que seria incompatível com a conservação do asfalto.
Alvirio Scalco foi sucedido por Anacleto Giovelli na Administração Municipal. Giovelli, então recém egresso da Faculdade de Filosofia de Ijuí (dirigida por freis capuchinhos), trazia em sua bagagem mental lições ecológicas. Assim que assumiu o governo local, criou o marco verde da cidade. Para coordenar seu inovador plano, buscou a cedência, do Estado para o Município, do servidor Juarez Guterrez – técnico da Secretaria da Agricultura/RS. Deve-se a Juarez o plantio de milhares de árvores na cidade.