“Trancada, sozinha, em um espaço de 30 metros quadrados”. Essa tem sido a realidade da jornalista de 23 anos Victória Faragó nos últimos dias. Assim como ela, muitos brasileiros também estão tendo que enfrentar a quarentena, oficializada em alguns estados nesta semana. A diferença é que o isolamento social de Victória já dura 19 dias – e, além de solitária, ela está em quarentena em Milão, na Itália, longe da família e amigos.
“Nos primeiros dias não tinha caído a ficha. Demora um tempo para perceber que, legalmente, você precisa ficar trancado em casa”, conta a jornalista. “Mas para mim, a maior dificuldade é estar isolada sozinha, em um espaço tão contido”, referindo-se ao estúdio onde mora: um imóvel pequeno e sem divisão de cômodos.
De acordo com a especialista de psicossomática Maria José Femenias Vieira a adaptação nesses casos – onde o isolamento é imposto, e não opcional – pode ser mesmo muito difícil. “Somos seres sociais e nos constituímos como indivíduos por meio da relação com o outro. No isolamento é comum um estranhamento e uma sensação de desamparo, abandono, incertezas e solidão”, explica.
Por isso, nos próximos dias, é normal que a população brasileira, especialmente a que está seguindo à risca recomendações de isolamento, apresentem algumas características que, segundo médica, são consequências do confinamento e que vão depender do histórico emocional e do momento atual de vida de cada um. “Pode ocorrer depressão, ansiedade, paranoia, sentimento de baixa autoestima, solidão e até psicose”, completa.
O advogado Vinícius Eduardo Pereira dos Santos, 26 anos, que está desde o fim de fevereiro com as aulas suspensas em Coimbra, em Portugal, também está mais “experiente” em relação aos efeitos da quarentena do que os brasileiros. Entre outros problemas, chama a atenção para a dificuldade de ficar completamente sozinho.
“O maior contato que tenho é com pessoas do Brasil. Mas, por conta do fuso horário diferente, acabo conversando com o pessoal até tarde da noite aqui, e, no outro dia, não consigo levantar cedo e acabo entrando em um ciclo ruim”, comenta ele.
Apesar dos percalços, manter-se em contato com outras pessoas é uma das principais dicas para lidar com o isolamento. “Converse online duas vezes por dia com ao menos dois grupos diferentes de no mínimo três pessoas para configurar um grupo e ampliar as possibilidades do sorrir”, recomenda Julio Peres, psicólogo clínico e doutor em neurociências.
O psicólogo defende que os sentimentos de conexão e pertencimento a comunidades são protetores contra depressão e transtornos ansiosos. Sabendo do risco, Victória usa os recursos digitais para ficar sempre em contato com o namorado. “Já fizemos alguns ‘dates’ virtuais. A gente se liga por vídeochamada e janta juntos ou assiste uma série”.
Estabeleça uma rotina
Para a jornalista, criar uma rotina tem sido fundamental. “Eu acordo pela manhã, me visto, tomo café da manhã e tento variar as atividades: passo um tempo lendo, depois tento uma atividade manual, que não exija tanto esforço mental, como dobrar roupa”, descreve ela, que também tem aulas online em período integral duas vezes por semana.
A dica é unânime. O estudante Marcelo Sampaio, de 23 anos, que mora em Barcelona, na Espanha e está há duas semanas sem aulas devido a pandemia, também tem apostado no planejamento do dia para enfrentar a quarentena.
“Tenho aulas online de manhã, de tarde alterno entre trabalhos e vídeos no Youtube. Depois faço uma malhação caseira improvisada e mais tarde jogo algo pelo celular com meus amigos do Brasil”, fala.