“Vou ensinar ao meu filho, tudo que aprendi aqui, do pior jeito”

“Vou ensinar ao meu filho, tudo que aprendi aqui, do pior jeito”

A ressocialização e a carência de programas que trabalham diretamente com apenados sempre foram um desafio para os presídios brasileiros. Sem dúvida, a falta de debate sobre esse ponto resulta em uma lacuna de conhecimento relacionado a esse assunto.

Desde novembro de 2017 está ocorrendo um projeto muito interessante de cunho socioambiental no Presídio Estadual de Santa Rosa – PESR. É uma parceria entre a Sala Verde – Querência Farroupilha vinculado ao IFFAR e o Presídio Estadual de Santa Rosa. O trabalho consiste em uma implementação de uma horta medicinal no Presídio, com o intuito de contribuir para a qualidade de vida e bem estar dos apenados.

Essa ideia, segundo Kátia Sartório, surgiu através da necessidade de trabalhar a Educação Ambiental dentro do Sistema Carcerário. “A importância se dá na avalição das percepções ambientais no meio carcerário, direcionando a prática, através de oficinas socioambientais, contribuindo para melhoria da saúde e para as questões de conservação e outras atitudes ambientais desenvolvidas dia a dia no presídio e fora dele”, fala Kátia, uma das discentes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFFAR, que participa do projeto junto com Gabriel Brutti e Artiese Machado.

O projeto, além de ser vantajoso para os alunos que o desenvolveram, se torna proficiente para o presídio, que segundo Rubesmar Antonio Goebel, Diretor Presídio Estadual de Santa Rosa- PESR, coloca os próprios apenados desenvolverem as atividades de campo, como também insere nos mesmos uma mudança de cultura no tratamento das doenças. Ainda, tira o preso da ociosidade, motivando-os a criar e desenvolver atividades que vão beneficiar a si mesmo como também seus familiares e a própria comunidade.

“A convivência entre os presos é de interação com os alunos e participação ativa no desenvolvimento das atividades. A mudança se dá em vários aspectos, como comportamento, sair do ócio, realização pessoal em ajudar desenvolver os projetos para ajudar pessoas, então se tornou importante, pois também propicia aos apenados oportunidade de trabalho e nova mudança de comportamento relacionado as doenças”, diz Rubesmar Goebel.

Na horta do presídio o produto escolhido para plantar tem um objetivo principal, e é nada mais nada menos que chás. O critério usado foi devido que isso resultaria em uma melhora da saúde dos detentos no sistema carcerário e para se ter uma medicina alternativa, na qual os detentos tem acesso rápido para determinadas enfermidades.

Não são todos os presos que podem participar da atividade, mas sim, somente aqueles que já possuem condenação e tenham cumprido parte da pena, além de comportamento satisfatório.

Devido ao êxito do projeto, um dos detentos que acompanhou desde o início da atividade, deu um depoimento a uma das discentes agradecendo a oportunidade. “Isso que vocês estão fazendo aqui, muda a vida da gente, as pessoas que olham pra nós de lá de fora, não olham com os olhos que vocês tem. Tenho um filho de 14 anos, depois que eu sair, o que eu vou ensinar para ele? Vou ensinar tudo o que eu não aprendi lá fora e aprendi aqui, do pior jeito, a cuidar e a valorizar as coisas, o meio ambiente, reciclar o lixo e a minha vida’’, relata um dos presos, o que demonstra a importância desse projeto, como qualquer outro, na formação dos apenados. Para Rubesmar, esses projetos ajudam, e muito, na ressocialização dos presidiários. “Sem dúvida, qualquer atividade que consiga tirar o apenado da ociosidade já é uma realização para a direção e o próprio apenado, pois dá a ele um novo caminho, faz com que o preso reflita e tenha consciência de que é capaz de buscar outros caminhos”, discursa.

Este projeto tem a intenção de ser trabalhado até o final do ano, tendo como possibilidade de se estender até o ano que vem, conforme a demanda do PESR. “Temos nossa horta hidropônica que beneficia 08 entidades assistenciais, metalúrgica Netz, vários convênios com empresas públicas e privadas que empregam cerca de 80 apenados. Com o IFFAR temos o projeto do Lixo Reciclável que já está em andamento neste PESR. Devido ao nosso espaço ser bem limitado, dificulta implementarmos outros projetos, mas estamos sempre buscando parcerias para inserir os presos em atividades que possam lhes qualificar e consequentemente ajudar-lhes a sair melhor do que entraram no sistema”, fala Rubesmar sobre outros projetos que lidam diretamente com os presos.

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