Pouco sei da história

Pouco sei da história

Nem mesmo da história contemporânea, dos acontecimentos, dos fatos notáveis que fizeram a história do passado do nosso povo. Sei muito pouco, quase nada dos fatos que foram responsáveis pela nossa formação, de episódios que se atribuem importância épica, de atos heroicos. Em referência a Revolução Farroupilha, transcorrida entre 1835 e 1845, mais li que ouvi. Mesmo sendo bastante incipiente, a literatura disponível é mais rica e confiável que a narrativa oral, advinda de apresentadores de programas gauchescos, ”especialistas” em tradicionalismo, que habitam Centros de Tradições Gaúchas e outras querências. Procuro alimentar minha curiosidade lendo, sempre que encontro, algo de qualidade ou visitando locais citados como referência históricas.

Há poucos dias estive em Guaíba, município próximo de Porto Alegre. Permaneci bom tempo na velha casa onde morava Gomes Jardim, amigo do General Bento Gonçalves, o grande líder da Revolução. Eram primos. Gomes era médico, além de estancieiro, assim como Bento. Sua fazenda, situava-se onde hoje está Guaíba, pequena cidade, muito agradável, com bonita rua ao lado do Rio Guaíba, com refúgios ajardinados, onde se pode tomar um chimarrão apreciando a imponência do rio.

Com estilo arquitetônico importado da Europa, como era a maioria das casas de famílias abastadas no período colonial, a ampla residência, se situa num dos pontos mais altos da colina. De lá se vislumbra o imponente Rio Guaíba e, na outra margem, a capital do Estado.

Caminhei no pátio onde Gomes Jardim está enterrado, olhei a lápide escrita com caracteres rudimentares há mais de 170 anos. Pisei, com respeito, nas pedras onde um dia ele andou. Sentei de baixo de um cipreste que, segundo informações, tem mais de trezentos anos. À sombra dessa árvore reuniram-se e tramaram o primeiro ato de bravura que deu início a Revolução Farroupilha, o próprio Gomes Jardim, Bento Gonçalves e Onofre Pires. Isso ocorreu no dia 19 de Setembro de 1835. No outro dia, vinte de Setembro eles atacaram e tomaram Porto Alegre, sem dar um tiro sequer. Derrubaram o Presidente da Província Antonio Fernandes Braga que fugiu para a cidade de Rio Grande. A partir do fato a guerrilha se espalhou por todo o Rio Grande. Um mês depois, Bento Gonçalves foi preso e exilado na Bahia, de onde fugiu e voltou ao Rio Grande para lutar até 1845.

Esses farelos de historia, envoltos na nuvem confusa do tempo me despertaram para a busca de mais informações. Fico triste imaginando o descaso das novas e velhas gerações sobre fatos, acontecimentos, que trouxeram tantas conseqüências para nosso modo de vida. Se a liderança da Revolução Farroupilha era composta de poucas pessoas, como Giuseppe Garibaldi, Zeca Neto, Onofre Pires, Gomes Jardim, Davi Canabarro, Bento Manuel Ribeiro, assim mesmo pouco ou nada sabemos de nenhum desses líderes. Deveríamos ler mais, ter informações bem fundamentadas. Na verdade estive na casa onde morou um homem que ajudou a escrever uma parte importante da nossa história mas do qual eu sabia tão pouco da sua vida e de sua obra.

Mais uma curiosidade. Nessa casa faleceu em 1847, dois anos após o término da Revolução, o General Bento Gonçalves. Doente, havia procurado ajuda do primo médico.

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