Nossos desgovernos

Nossos desgovernos

No último final de semana estive na minha terra, Capão da Urtiga. Preciso escrever esta crônica como forma de tornar público meu descontentamento com a administração municipal de lá. Farei este jornal chegar as mãos do prefeito. Gostaria de falar do meu orgulho de haver nascido no segundo distrito, de ser natural de uma cidade histórica onde ocorreram combates durante a Revolução Federalista de 1893. Na Praça, persistem marcas do tiroteio. O prédio de onde tirotearam os revolucionários ainda está lá, preservado. Digo que tenho orgulho de ser natural da Querência do Bugio, designação honorífica devido ao fato de que naquela terra um gaiteiro qualquer inventou o ritmo gauchesco, tocado em gaita ponto, chamado “bugiu”. E por designação da natureza, um bando de bugios passou a habitar a Praça e podem ser vistos a qualquer dia, a qualquer hora.

Nosso povo é bom, hospitaleiro, receptivo, trabalhador, conservador. Não merece o abandono em que está, sob todos os aspectos. As estradas do interior estão em condições precárias. A situação de descaso atinge níveis alarmantes. Onde está a manutenção que a Prefeitura deveria fazer? As estradas estão esburacadas, atoleiros são comuns, cabeceiras de bueiros e pontes oferecem risco iminentes. Os inços nas laterais são a comprovação de que as máquinas não operam há muito tempo. Decadência total. A impressão é de que não temos prefeito. Os impostos elevados parecem não ter função nenhuma. Uma arrecadação tão privilegiada deveria, pelo menos, financiar melhores vias de escoamento da produção, do gado, da soja. Deveria proporcionar uma cidade mais limpa. Mas vale o adágio popular: aos contribuintes, as batatas. Está faltando um olhar administrativo mais competente.

Existe ausência de desempenho da sua equipe, prefeito. A mesma ausência que não se constata na cobrança de impostos. Estou sendo a mosca na sua sopa. Até porque escrevo em nome de meus irmãos, meus primos, meus vizinhos do Inhandijú, meus parentes que moram na cidade e outros que moram no interior. Os mesmos que foram seus eleitores. Vejo na falta de estradas os seus descaminhos. Falaram que o senhor está gastando centenas, senão milhões de reais em duas obras “de cunho “sócio-cultural”. Um pórtico na entrada da cidade e um estádio de futebol. Tem tanta importância assim o time de futebol de Capão da Urtiga? Me contaram, (não deve ser verdade), que no pórtico, um bugiu aparece segurando um termômetro que dará a temperatura do momento, outro bugiu segura um relógio com a indicação das horas e outro mostra um calendário com a data. Muito criativo! O senhor acredita que essas obras são mesmo prioridade? Pensou no custo benefício? Há menos de um quilômetro de vilas sem calçamento, sem esgotamento sanitário? O senhor vai construir asfalto no acesso a estádio que fica há poucos metros de ruas que sequer possuem calçamento com paralelepípedos e onde moram e transitam diariamente centenas, milhares de moradores em ruas esburacadas. Isso é um ato de corrupção. Corrupção na escolha errada das prioridades. É o desvio de recursos públicos sem conseqüência social nenhuma.

Com essa postura o senhor corrói a credibilidade da governança do meu município. Isso é incompetência gerencial. É desatino seqüencial. É orgia de erros. O senhor está colaborando ativamente na ruína econômica do meu município. O pior é que o senhor encarna a personalidade e o potencial (ou a falta dele) de tantos outros prefeitos. A inaptidão gerencial leva o Brasil à beira do colapso. Dizem que quando se dota um homem de poder é comum ele o usar mal. Uns se arrogam de alucinada superioridade, outros parecem perdidos. Alguns estão sob influência de péssimo assessoramento. A gestão pública atrai cada vez menos gente competente. Mas não é unanimidade, graças a Deus. Viva as exceções! Tucunduva, Santa Rosa, Camaquã, Tuparendi, Senador Salgado Filho, Rio Pardo, estão sob administrações competentes!

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