A alta no preço do leite longa vida se tornou um assunto bastante comentado depois que o litro passou a ser encontrado nos mercados e padarias não só de Santa Rosa, mas de todo o Brasil entre R$ 7 e R$ 10 nas últimas semanas.
O preço do leite costuma subir durante a entressafra, que vai de abril até junho, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). É quando o clima mais seco prejudica a disponibilidade e a qualidade das pastagens.
Contudo, neste ano, lidar com a entressafra ficou ainda mais complicado para o produtor, e isso também se reflete nos preços nos mercados, afirma a pesquisadora do Cepea Natália Grigol. Ela aponta mais dois motivos para a alta do leite pela perspectiva do campo:
• os efeitos do fenômeno La Ninã, sobretudo no final do ano passado e início deste ano;
• e o aumento nos custos de produção.
O que é a La Niña
A La Niña é um fenômeno climático que acontece quando há o resfriamento das águas do Oceano Pacífico, afetando a América do Sul e, no caso do Brasil, diminuindo as chuvas no Sul e as aumentando no Centro-Norte. O evento, que normalmente ocorre intercalado com o El Niño, já está em seu segundo ano consecutivo, surpreendendo produtores que esperavam se recuperar da estiagem de 2021. “A seca naquele momento (no final do ano passado e início deste ano) reduziu a qualidade da silagem que é ofertada aos animais, afetando o desempenho da atividade atualmente”, diz Natália.
Produção mais cara
“Outro ponto que é extremamente importante porque afeta toda a estrutura produtiva é o aumento nos custos de produção”, aponta a pesquisadora. “Segundo o Cepea, o Custo Operacional Efetivo da atividade esteve em alta nos últimos três anos e só neste último mês é que começa a mostrar inversão dessa tendência”.
Natália também ressalta que, nesse período, os insumos que mais pesaram para o produtor foram: a ração — por causa da valorização no mercado de grãos —, o aumento de exportações de grãos e a queda na disponibilidade interna, os suplementos minerais, os fertilizantes e o combustível.
“Toda alimentação animal foi se encarecendo nos últimos anos. Tanto a alimentação concentrada (ração) quanto a volumosa (pastagem) foram afetadas pela alta de combustíveis e fertilizantes. Isso levou muitos pecuaristas a saírem da atividade ou a enxugarem investimentos”.
“Como consequência, a estrutura produtiva, agora, enfrenta dificuldades para elevar o nível de oferta, e os preços ao produtor estão se elevando desde janeiro”.
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de junho — considerado a prévia da inflação oficial do país — o aumento no preço do leite começou a ser registrado de fevereiro para março:
• fevereiro: 1,04%
• março: 3,41%
• abril: 12, 21%
• maio: 7,99%
• junho: 3,45%
Já no campo, o preço do leite captado em abril deste ano e pago aos produtores em maio subiu 4,4% frente ao mês anterior. Em relação a maio do ano passado, o aumento é de 11,8%, .
Valorização X oferta
A valorização do leite no campo, principalmente no mês de junho, se deve à menor oferta do produto, afirma a pesquisadora Natália. E, apesar dos gastos terem recuado devido às recentes desvalorizações da soja e do milho, o desembolso do produtor com a alimentação do rebanho segue em patamar elevado.
“A inversão da tendência (de alta) depende muito de variáveis macroeconômicas, como inflação e taxa de câmbio”, explica Natália. “Os mercados agrícolas são globalizados e grande parte da alta nos preços dos insumos produtivos se explica tanto pela valorização desses insumos no mercado externo quanto também pela desvalorização do real.”
Quando vai baixar?
A pesquisadora entende que, do lado da oferta, a entressafra deve seguir até meados de setembro, ou quando as chuvas da primavera retornarem. “Mas, ainda que a oferta possa se restabelecer, observa-se que os custos (do leite) podem seguir elevados”.
“Ainda que o mercado de grãos sinalize preços mais baratos com o início da safra, é possível que a demanda global drene a oferta doméstica — e isso pode ser intensificado pelo câmbio desvalorizado. Por isso é difícil de prever uma reversão dos preços de alimentos, como os derivados, diante do mesmo posicionamento macroeconômico que o Brasil tem adotado”, finaliza a pesquisadora.