O Rio Grande do Sul é o terceiro maior exportador nacional de carne de frango, tendo destinado mais de 50% de sua produção ao mercado externo em 2024. As exportações do setor somaram US$ 1,3 bilhão no ano passado, o equivalente a 5,8% da pauta exportadora estadual. Municípios como Nova Bréscia, Westfália e Alto Feliz têm mais de 40% do Valor Adicionado Bruto (VAB) da agropecuária diretamente associado à criação de aves, o que reforça a relevância econômica da cadeia para o desenvolvimento regional.
A confirmação de um foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) em uma granja comercial no município de Montenegro, em maio de 2025, provocou alteração no status sanitário do Brasil, com repercussões econômicas e comerciais imediatas. Até então, os registros do vírus no país estavam restritos à fauna silvestre.
A avaliação está apresentada na nota técnica publicada nesta segunda-feira (23/6) pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), de autoria dos pesquisadores Ricardo Leães e Sérgio Leusin Jr.
“Este informe tem por objetivo reunir informações pertinentes sobre a cadeia produtiva e o contexto comercial do setor avícola, buscando contribuir para o entendimento da sociedade acerca do contexto sanitário e econômico associado ao episódio de gripe aviária identificado recentemente no Rio Grande do Sul. Entende-se que esse tipo de análise é relevante para apoiar a tomada de decisão dos agentes econômicos, públicos e privados”, explicou Sérgio Leusin Jr.
Exportações e reações dos mercados externos
A ocorrência levou à adoção de restrições por parte de diversos parceiros comerciais. China, União Europeia, Coreia do Sul, Iraque e Kuwait aplicaram suspensões totais das importações de carne de frango brasileira. Outros mercados, como Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, adotaram restrições regionais, limitadas à área do foco.
A nota técnica aponta, com base em experiências anteriores do Brasil e de outros países, que a duração dos embargos depende da confiança dos mercados na efetividade das medidas de controle adotadas. O documento também lembra que a China já mantinha um embargo às exportações do Rio Grande do Sul desde julho de 2024, em razão de um foco anterior de Doença de Newcastle.
Impactos no mercado interno e na produção gaúcha
No mercado nacional, os efeitos são perceptíveis. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Cepea/Esalq), o preço do frango congelado, tendo São Paulo como referência, sofreu uma queda de 5,3% entre 27 e 28 de maio, passando de R$ 8,65 para R$ 8,19. O valor recuou novamente nos dias seguintes, alcançando R$ 7,38 por quilo em 6 de junho. A queda nos preços é condizente com a hipótese de redirecionamento da produção antes destinada ao mercado externo.
Desafios e articulação institucional
O estudo aponta que os impactos econômicos decorrentes da ocorrência envolvem questões como interrupção de contratos de exportação, aumento dos custos logísticos, efeitos sobre cadeias produtivas, mercados interno e externo, além de impactos sobre a atividade econômica de municípios com elevada dependência da avicultura.
A nota técnica também destaca a importância de uma atuação articulada entre setor público, setor privado e instâncias diplomáticas para a contenção dos efeitos econômicos e a preservação dos mercados.
Texto: Marcelo Bergter/Ascom SPGG
Edição: Camila Cargnelutti/Secom