Notícia publicada na edição impressa em 2017
Ao fazer a prova para o curso de Operadores Aerotáuticos da Polícia Civil, Amanda Mattos, de 30 anos, natural de Giruá, mas que reside e trabalha em Santa Rosa como Policial Civil, sabia que o que viria pela frente não seria nada fácil. Abrir mão de um longo cabelo de mais de 45 centímetros de comprimento, carregar uma mochila de 30 quilos nas costas (ela pesa 55 quilos), sentir frio e muita dor, foram apenas o começo do que viria nas próximos 5 semanas ao ser aprovada na prova teórica.
Confira a entrevista com ela, que atualmente estava trabalhando na DP de Santo Cristo, egressa do Curso de Direito da FEMA e filha de Daniel e Jane de Mattos.
JGR – Em que consiste o curso que você realizou?
Amanda – O curso realizado forma Operadores Aerotáticos. São tripulantes operacionais multi-missão, com treinamento para regates em água, ar e terra, apoio aéreo em operações policiais, entradas em ambientes de risco, tiro embarcado, inclusive auxílio em operações ligadas a outros Órgãos da Segurança Pública. O curso foi efetuado pela Polícia Civil, e contou com o apoio em instruções do Exercito Brasileiro, Corpo de Bombeiros, Brigada Militar, Policia Rodoviária Federal. Diversas técnicas de rapel, desembarque rápido, mergulho,tiro embarcado, emprego de armas curtas e longas como fuzil FN fal 762, 556; cumprimento de mandados de prisão, busca e apreensão, combate a incêndio, primeiros socorros, técnicas de orientação foram algumas das diversas instruções que os alunos tiveram durante o curso.
JGR – Ao concluí-lo, ao que ele te habilita?
Amanda – Com a conclusão do curso, habilita-se como operador aerotático. Sua missão é dar apoio às operações da Polícia Civil, suporte aéreo armado , observação e monitoramento de distúrbios civis, repressão aos crimes contra do patrimônio, transporte policial, evacuação aeromédica em operações policiais (e em outras situações pertinentes), suporte aéreo à diversas operações dos Órgãos de Segurança Pública, apoio às atividades de Inteligência Policial, dentre outras funções.
JGR – – Como surgiu a ideia de realizá-lo?
Amanda – A ideia de realizar o curso deu-se através da abertura de vagas no concurso de seleção interna para tripulante operacional. Com mais de 60 inscritos, das 20 vagas disponibilizadas para os policiais civis, somente 14 foram preenchidas pelos que conseguiram lograr êxito nas etapas da seleção interna, que continham avaliações de corrida, apoio, abdominais, barras, natação, tiro, diversos exames de saúde e avaliações psicológicas. Dos 14 policiais civis que iniciaram o curso, 9 conseguiram terminá-lo. Além dos policiais civis, havia pessoal do Ibama, Polícia Rodoviária Federal, Brigada Militar, Bombeiros.
JGR – Nestas 5 semanas, quais foram suas principais dificuldades?
Amanda– Cada dia de curso foi um desafio ímpar. A primeira semana, chamada de “semana zero” foi intensa. Dormíamos no mato, corridas diárias, muitos apoios, calistenia, instruções com o Exército Brasileiro, pistas militares, o peso da mochila, muito desgaste físico. As dores eram constantes. A primeira semana terminou com uma marcha de 24km, com o corpo já muito comprometido após os dias passados no mato, com baixíssimas condições de medicar os ferimentos. Começamos o curso com 22 alunos. Ao final da “semana zero” éramos 18.
JGR – Quais as situações mais difíceis pelas quais passou?
Amanda – A semana da água foi difícil. Uma instrução de mergulho em um tanque de 8 metros de profundidade que fica ao lado do Guaíba, condição que deixa a água extremamente gelada foi extrema. Nesse dia, um colega querido por todos teve um princípio de hipotermia e teve que deixar o curso, saiu dentro de uma ambulância. Ficamos dentro do taque enquanto ele estava sendo atendido, quase convulsionando. Era muito frio. Nadar 2 km contra a correnteza no rio Guaíba, conhecido por seu nível de poluição também foi desafiador. A verdade é que, quando estamos com o corpo estafado, até mesmo polichinelos, apoios, qualquer esforço é difícil. Conseguir passar a rebentação para entrar e nadar no mar, assim como sair dele após o esforço despendido. Saltar em plataforma de 10 metros de altura, rapelar, tiro embarcado, correr, marchar, carregar a mochila, tantas coisas. As vezes não dá para pensar, é preciso fazer. Ao final, éramos 15.
JGR – Como resume esta experiência?
Amanda – Esta experiência foi incrível. A mente trabalhando o corpo a todo momento, acreditando e convencendo o corpo de que é possível. Na manhã, me preparava e me convencia que aguentaria até a tarde. Na tarde, teimava e desejava chegar na noite. E na noite, deseja ir dormir com a vitória de ter vencido aquele dia. O outro dia era somente outro dia. Não era um dia por vez. Era uma manha, uma tarde, uma noite de cada vez. Eu só preciso aquentar o agora. Esse foi o pensamento. Isso ensina pra vida toda. A superação dá crença ao corpo. Alimenta a fé. Torna mais forte os laços familiares, as amizades. Gera gratidão pelas coisas boas e simples, o conforto de estar em casa, de descansar.
JGR – Como se sente sendo a 1ª mulher ao concluir este curso?
Amanda – Ter sido a primeira mulher a concluir o curso me faz pensar na sorte que tenho de ter essa oportunidade. Sou uma pessoa de muita sorte, mesmo; pela minha familia, pelos colegas maravilhosos que encontrei durante esta batalha. Os colegas foram primordiais. Mulheres maravilhosas que conheço teriam condições de fazer esse curso sim. Homens maravilhosos que conheço também. O ser humano é fantástico. O corpo do ser humano é maravilhoso.
JGR – Aonde atuará a partir de agora?
Amanda – Após o termino do curso, todos voltarão a atuar em seus respectivos órgãos, aguardando serem chamados para nova lotação, de acordo com a conveniência da Divisão de Apoio Aéreo e das demais Instituições a que pertencem os operadores recém formados.
JGR – O que espera deste novo desafio?
Amanda – O que espero do novo desafio, se possível for, é a experimentação de novas sensações. Superar medos, aprender. Sempre o aprendizado.