Uma das mais expressivas virtudes que dignificam a pessoa é, sem dúvida, o trabalho. Essa virtude não chega ser uma escolha, é um predicado inerente a personalidade humana, sem o trabalho – desde que ele esteja disponível – o homem perde a dignidade, um dos atributos do ego, e desce à condição de desocupado.
O homem só se exonera dessa responsabilidade quando quer trabalhar, mas não encontra o trabalho ao seu alcance. PAULO – apóstolo – chegou ao extremo ao condicionar a alimentação do homem, a prática do trabalho e a enfrentou com rigidez na sua Segunda Epístola aos Tessalonicenses. (…) ‘se alguém não quer trabalhar, também não coma’. Essa alusão ao trabalho, pois, vem dos textos bíblicos se considerarmos suas fontes, perpassa pelas mais variadas doutrinas socioeconômicas até chegar a mais elementar dicotomia; capital e o trabalho. Não creio na conjugação meramente temporal dessas duas forças, para que possamos identificar quem são os desalentados, os desesperançados e outros apelidos à luz de meras estatísticas, sem examinar as causas desse fenômeno. Lembram dos descamisados pós ‘revolução redentora’? Eram os marginalizados, aqueles que entre a camada dos “ricos e opulentos” e a dos “pobres e miseráveis” eram jogados nesta última. O problema estava na gestão do governante. Gestão, pura gestão.
O desalento não estava na vontade de trabalhar, mas na falta de trabalho. A desesperança a vejo com a mesma ótica. Essa é braba! Se eu estou a mais de dois anos procurando trabalho e não o encontro pelo simples fato de não existir, eu desisto, sou um desesperançado e não sou, todavia, um desocupado. Vejam o quadro caótico que se nos apresenta no momento: 4.8 milhões de brasileiros desistiram de procurar emprego. Esses são os desalentados. Coisa triste! Esses gostariam de trabalhar, mas estão na faixa daqueles que não procuram mais vagas, é um contingente que desistiu, é a taxa de desalento. Os que me lêem já reclamaram que eu coloco muitos números na coluna. Perdoem, tenho que colocar mais alguns: 3.1 milhões ou 24.4% de pessoas estão procurando trabalho há mais de dois anos (é uma das razões do desalento). Elas não são desocupadas, porque se você oferecer trabalho elas aceitam, mas cansaram de procurar. São os desesperançados. E como tudo na vida tem a sua repercussão, no olho do furacão surge a figura da subutilização: ‘eu tenho gás para trabalhar oito e até doze horas por dia, mas aceito trabalhar apenas quatro embora ganhe menos, porque é o que há disponível.
Eis, mais uma taxa. A taxa de subutilização da força de trabalho no Brasil atingiu um nível recorde no primeiro trimestre de 2018, informa o IBGE: 27,7 milhões, o que corresponde a 24,7% da força de trabalho. O Brasil é um país novo, com tudo a fazer. Além disso, é um país rico, mas se continuar convivendo com essas taxas, não sairá da esfera de um país em desenvolvimento. Existem situações anacrônicas com as quais o brasileiro não pode conviver. É aí que entra o milagre: ‘você vota em mim e eu te pago para não trabalhar’. É a bolsa família! São 45 milhões. E tudo acaba irremediavelmente, em DESALENTADOS E DESESPERANÇADOS. Com essa o PAULINHO* não contava. Até sábado
*Apóstolo