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DA PROFECIA AO ADEUS

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Ronaldinho, 40 anos: fatos e feitos do craque pelo Grêmio que você talvez não lembreRonaldinho, 40 anos: fatos e feitos do craque pelo Grêmio que você talvez não lembre

No último sábado, Ronaldinho Gaúcho completou 40 anos de idade preso em uma cadeia do Paraguai. Mas a história do craque, um dos maiores jogadores da história do futebol, despontou muito antes de ele colecionar polêmicas fora de campo.

As duas Bolas de Ouro nos tempos de Barcelona, a Copa do Mundo de 2002 e os milhões de fãs no mundo todo foram forjados nas categorias de base do Grêmio, clube que deixou no início de 2001 sob acusações de “mercenário”. Quase voltou 10 anos depois, mas o que marcou mesmo foi mais uma frustração ao torcedor gremista.

Depois de ser a estrela do Brasil campeão mundial sub-17 em 1997, os olhos voltaram-se para Ronaldo, como então era chamado no Tricolor. Estreou no time profissional somente um ano depois. Em três anos, disputou 141 partidas, marcou 68 gols e conquistou os títulos gaúcho e da Copa Sul, ambos em 1999.

Profecia de Assis

Legenda de foto da Revista Placar de 1988 traz frase de Assis — Foto: Reprodução / Revista Placar

Era 1988 quando o meia promissor Roberto Assis Moreira pensava em trocar o Grêmio pelo Torino, da Itália. No dia 22 de janeiro daquele ano, o irmão mais velho e hoje empresário de Ronaldinho concedeu entrevista à Revista Placar sobre a possível mudança de ares logo aos 17 anos.

Mas chamou a atenção ao avisar que o “craque da família” era o caçula, então com apenas sete anos. No fim das contas, acertou a previsão sobre o irmão, mas permaneceu em Porto Alegre após receber um aumento e uma casa nova do Tricolor.

De Porto Alegre para o Egito

À medida que crescia, Ronaldinho cumpria todos os rituais para vingar a “profecia” de Assis. Em 1997, mostrou seu potencial pela primeira vez ao mundo. Já na base do Grêmio, ganhou a camisa 10 e ajudou o Brasil a erguer o título da Copa do Mundo Sub-17, disputada no Egito.

Com destaque na final, contra Gana. A Seleção saiu atrás no placar, mas Ronaldinho entrou em cena no segundo tempo. Criou o lance do gol de empate, de Matuzalém, e depois deu a assistência para Andrey virar e garantir o grito de campeão.

Primeiro jogo como profissional

O destaque no Mundial sub-17 alvoroçou os gremistas, que àquela época clamavam por um novo ídolo após as saídas de Jardel e Paulo Nunes. Então, Ronaldinho começou o ano de 1998 integrado ao grupo principal comandado por Sebastião Lazaroni.

A pré-temporada em Canela, na serra gaúcha, serviu para aguçar os torcedores. O Grêmio disputaria alguns amistosos até o primeiro jogo oficial da temporada, no dia 4 de março, contra o Vasco.

Era também a estreia na Libertadores. Ronaldinho foi a campo no Olímpico e cobrou o escanteio que encontrou a cabeça do centroavante Guilherme para definir a vitória por 1 a 0.

O primeiro gol

O primeiro gol com a camisa do time principal do Grêmio não tardaria a aparecer. Na mesma Libertadores, no dia 31 de março, a equipe foi para o intervalo do jogo contra o Chivas, no Olímpico, com o placar zerado.

Mas bastou a bola rolar para o segundo tempo que o jovem meia-atacante botou o talento para fora. Aos dois minutos, recebeu de Beto e chutou de fora da área para abrir o placar. Mais tarde, deu um passe por elevação sobre a defesa para deixar Beto na cara do gol e fazer o segundo: Grêmio 2 a 0.

No banco com Celso Roth

Mesmo com o talento de Ronaldinho, o Grêmio penava no Brasileirão de 1998. Ficou cerca de 15 jogos sem vencer em certo momento. Então, Celso Roth chegou para tentar reerguer a equipe, que flertava com a zona de rebaixamento. Deu certo.

Porém, uma alteração forçada, segundo Roth, “equilibrou” o time. Ele experimentou o lateral-direito Itaqui, contratado do Juventude, no meio de campo, exatamente na função do garoto. Assim, o Tricolor chegou às quartas de final, eliminado pelo Corinthians após três jogos – no segundo, o Grêmio venceu por 2 a 0 em pleno Pacaembu, um dos gols marcados por Itaqui.

– Pela qualidade, o Ronaldinho vivia na seleção brasileira, passando por etapas. Não permanecia no nosso grupo de trabalho. Vinha, ficava 15, 20 dias e voltava. E eu coloquei o Itaqui fazendo uma função que o Ronaldinho fazia no meio de campo. E o Itaqui equilibrou o time do Grêmio. Equilibrou tanto que perdemos o playoff para o Corinthians com um gol de escanteio. Então, têm situações do vestiário que não se explicam, vão acontecendo e às vezes o jogador toma uma determinada personalidade que o time precisa dele – explicou Roth em entrevista à ESPN.

Em 1999, todo o Gauchão para ele

Virou o ano, e Ronaldinho passou a ter mais chances com Roth. Mas precisou chegar na metade de 1999 para ele entrar de vez na história do clube. Em junho, mais um Gre-Nal decidiu o Gauchão. No primeiro jogo, vitória colorada por 1 a 0 no Beira-Rio. No segundo, no Olímpico, o meia marca um golaço de falta para decretar o 2 a 0.

A soma de pontos forçou a terceira partida, também no Olímpico. Aos 44 minutos do primeiro tempo, a obra de arte. Ronaldinho domina pelo meio, marcado de perto por Anderson, e lhe aplica uma caneta. Passa para Capitão, que devolve já na entrada da área. O camisa 10 só precisa ajeitar e tocar de canhota para o fundo da rede.

Mas o show tinha que continuar. No segundo tempo, se encarrega de atormentar um campeão do mundo. Frente a Dunga, o capitão do Tetra, dá um elástico de letra na linha de fundo e um chapéu perto da linha lateral. Foi o bastante para o título gaúcho e o êxtase da torcida.

– Eu queria dar mais, ele (Dunga) que se escapou – brincou Ronaldinho em entrevista ao Esporte Espetacular.

“Olha o que ele fez”

No dia seguinte ao título estadual, Ronaldinho acordou com a notícia inesperada de que estava convocado por Vanderlei Luxemburgo para disputar a Copa América pela Seleção no Paraguai. Ele fora “beneficiado” pelo corte de Edílson, que na final do Paulistão envolveu-se em uma briga generalizada entre Corinthians e Palmeiras.

Dez dias depois de ser campeão gaúcho, o menino gremista estreava na seleção brasileira principal, contra a Venezuela. A goleada por 7 a 0 pouco importa. Porque ele entrou no segundo tempo e, aos 30 minutos, recebeu na entrada da área, deu um chapéu no marcador e finalizou com força no canto. Ali, nascia Ronaldinho Gaúcho, na histórica narração de Galvão Bueno:

– Olha o que ele fez! Olha o que ele fez! Olha o que ele fez…

O primeiro baque

O ano 2000 anunciava-se como da afirmação de Ronaldinho, que completaria 20 anos em março. De fato, mais uma vez conduziu o Grêmio até a final do Gauchão. Mas o adversário, o Caxias, tinha um tal Tite na casamata.

Desta vez, o craque pouco pode fazer. Sofreu um 3 a 0 de cartilha no Centenário e tentaria tudo no segundo jogo, no Olímpico. Mas o Tricolor sequer ameaçou o primeiro título estadual da história grená. No fim da partida, Ronaldinho ainda perdeu um pênalti.

O garoto de US$ 60 milhões

Turbinado pelos milhões da mais tarde falida ISL, o Grêmio entrou com tudo no Brasileirão, que em 2000 se chamou Copa João Havelange. Nas oitavas e nas quartas de final, Ronaldinho estraçalhou com Ponte Preta e Sport, respectivamente, com direito a mais golaços.

Só que o Tricolor não foi páreo para a sensação São Caetano na semifinal. No primeiro jogo, no Palestra Itália, Ronaldinho marcou mais dois belos gols, mas o Grêmio perdeu por 3 a 2. No Olímpico, derrota por 3 a 1 e eliminação.

Apesar do lamento, Ronaldinho já estava consagrado. Recebeu a Bola de Prata da Placar como segundo melhor atacante. Não foi Bola de Ouro porque havia Romário, no campeão Vasco. Ao fim da temporada, a imprensa francesa já especulava o interesse do Paris Saint-Germain, que poderia pagar US$ 62 milhões para levá-lo à Europa.

O começo do fim

Consolidado como uma das principais promessas do futebol no fim da década de 90, Ronaldinho atraiu os olhares não só do time francês. A Europa inteira acompanhava o garoto de perto. O Leeds, da Inglaterra, chegou a oferecer US$ 80 milhões.

O assédio à mina de ouro gremista fez o então presidente José Alberto Guerreiro tomar uma atitude que gerou o primeiro abalo na relação do jogador com o clube. Estendeu uma faixa no portão do Estádio Olímpico: “Não vendemos craques. Favor não insistir”, com tradução em inglês.

25 de janeiro de 2001: o último ato

Afetados ou não pelas propostas recusadas pela diretoria, Ronaldinho e seu irmão, agora empresário Assis, fizeram uso da Lei Pelé, que entrava em vigor em 2001, para definir o rumo do ídolo gremista. Sem contrato renovado, o jogador ficou com o passe na mão e poderia negociar diretamente com qualquer clube.

E assim o craque brasileiro foi para o Paris Saint-Germain sem o Grêmio receber um centavo. A atitude de Ronaldinho gerou ódio na torcida, que passou a chamá-lo de “mercenário” e “traidor”. Mais tarde, o Tricolor ganharia cerca de US$ 5 milhões na Justiça pelo mecanismo de solidariedade da Fifa como clube formador.

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