,

Coronavírus: “É um momento que se for bem aproveitado, pode trazer muitos ensinamentos”

Coronavírus: “É um momento que se for bem aproveitado, pode trazer muitos ensinamentos”

A quarentena voluntária, em que muitas pessoas estão afastadas do trabalho, ou trabalhando de casa para evitar o Coronavírus, tem proporcionado mais tempo para pensar na vida, coisa que pouco se faz na correria do dia a dia. As preocupações com o futuro, com o trabalho, com a empresa, tendem a ocupar o pensamento, ainda mais com o cenário que se desenha com a economia do Brasil e do mundo. É um momento que também causa ansiedade e medo. A reportagem do Gazeta Regional conversou sobre o assunto com a Psicóloga Patrícia Sucolotti, de Santa Rosa. Ela atua em Psicologia Clínica há 21 anos, com formação em Psicoterapia Psicanalítica, em Psicopedagogia e especialização em formação de Terapia de Casal e Família, além de Neuropsicologia.

JGR – Neste tempo de pandemia, onde se vê problemas agora e no futuro, como manter-se otimista e com saúde mental?
Patrícia – Estamos vivendo um momento de muita tensão realmente, temendo pela nossa saúde e pelos nossos entes queridos. E com a chegada do Coronavírus, fomos obrigados a enxergar de frente o medo da morte que até então deixávamos distante de nós. Apesar da morte pertencer ao ciclo natural dos seres humanos, ou seja, nascer, crescer, se desenvolver e morrer, ela é para a maioria das pessoas, o maior medo. Não falamos sobre a morte, não discutimos seus efeitos e nem nos preparamos para ela. Não temos como controlar a morte, mas temos sim, como controlar a vida! Em função deste medo e desta angústia que a morte desperta, viver bem e ter prazer com ela é uma maneira de minimizar este sofrimento que a morte desperta! Em tudo que é crise se aprende muitas coisas e com o Covid-19 também estamos aprendendo. Estamos vivendo uma revolução silenciosa dentro de nós e por sinal muito reflexiva. Então para manter-se com saúde mental neste momento, aproveite este período da quarentena para avaliar sua vida, observar como viveu até aqui, se tem algo a ser mudado, pontuar o que gostaria que fosse diferente, e organizar uma forma de colocar tudo em prática. A maior certeza que temos é que estamos vivos e, enquanto se tem vida, temos a oportunidade de mudar.

JGR – Como os indivíduos respondem as restrições de imposição de quarentena. Quais os efeitos psicológicos à mudança de rotina que estamos enfrentando?
Patrícia – Não existe uma única forma de comportamento adotada pelos indivíduos. Em geral, as pessoas vão reagir não muito diferente da maneira que funcionavam antes desta crise, porém com uma intensidade maior. Por exemplo, pessoas mais ansiosas e angustiadas, provavelmente sentirão uma maior apreensão e ansiedade neste período.Pessoas mais pessimistas, sentirão naturalmente um maior medo em relação as incertezas do futuro.

JGR – Em sua opinião, qual será o resultado de tudo isso que estamos vivendo?
Patrícia – Um repensar geral sobre a vida, sobre a finitude, sobre as relações humanas e, principalmente, sobre a aceitação de que tudo diante da morte fica muito pequeno, pois o poder, o dinheiro, o intelecto, posição social nesses momentos, tornam-se insignificantes.

JGR – Este período pode causar ansiedade em algumas pessoas?
Patrícia- Sim, a todas as pessoas, pois estamos vivendo um risco real. Não estar ansioso seria negar a realidade e minimizar seus riscos. Estar ansioso e com medo são reações adequadas ao contexto que estamos vivendo. O problema surge quando estes sentimentos são desproporcionais ao dado de realidade, tanto pra mais, quanto pra menos.

JGR – Como alimentar a mente com coisas boas diante deste cenário?
Patrícia – Diante deste cenário, além de refletirmos muito sobre a nossa vida e nossas escolhas, é um ótimo momento para fortalecer os laços entre os casais, pais e filhos e as famílias como um todo. Hoje realmente observamos pais “com tempo” para brincar com os filhos e vivendo isso com muito prazer; casais se enxergando mais, conversando sobre coisas guardadas que até em tão deixavam quietas e sem mexer. Este acerto de contas criado em virtude do Coronavírus está proporcionado uma maior intimidade entre os casais e um maior entrosamento entre as pessoas nas famílias. É um momento que se for bem aproveitado, pode trazer muitos ensinamentos!

1 visualizações.
Notícias Relacionadas