A pandemia do novo coronavírus deve atingir a marca de 1 milhão de casos confirmados no mundo nesta quinta-feira, dia 2, ou no máximo até amanhã, 3. “É provável que cheguemos a essa marca entre hoje e amanhã”, disse o físico Roberto Kraenkel, professor do Instituto de Física Teórica da Unesp que trabalha com modelos matemáticos ligados à epidemiologia. Ele analisou a evolução dos números divulgados pelo Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, que compila dados de casos confirmados no mundo inteiro.
Nesta semana, o número de novos casos da covid-19 tem crescido a um ritmo de mais de 60.000 por dia. Até a manhã desta quinta-feira, a base de dados da Universidade John Hopkins registrava quase 950.000 casos confirmados no mundo. Esse número incluía cerca de 47.000 mortos e 193.000 pacientes já recuperados da doença.
De acordo com o site Worldometer, que atualiza os números em tempo real com base em relatórios oficiais dos governos e em outras fontes públicas, do total de pacientes ainda infectados, 95% apresentam sintomas considerados leves e 5% estão em condições críticas.
O novo coronavírus já atingiu moradores de 203 países e territórios ao redor do mundo. O número de casos confirmados vem crescendo de forma exponencial. Desde o início da pandemia na China, no fim de dezembro, foram necessários pouco mais de dois meses para o mundo bater a marca de 100.000 casos confirmados – número atingido no dia 6 de março. Esse total dobrou em 12 dias (200.000 casos em 18 de março) e agora está crescendo mais cinco vezes em apenas 15 dias.
Especialista em epidemiologia matemática, Ricardo Takahashi, professor do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais, chama a atenção para o fato de que todas as projeções divulgadas são baseadas no número de casos confirmados.
Segundo ele, na maioria dos países, inclusive no Brasil, isso tende a abranger apenas os casos suficientemente graves para levarem uma pessoa a buscar atendimento médico. “São poucos os lugares onde se faz a testagem de indivíduos em massa, mesmo na ausência de sintomas fortes. Isso significa que o número de pessoas infectadas, mas que não se dirigiram ao sistema de saúde, deve ser muito maior”, disse Takahashi.
Na China, uma estimativa divulgada recentemente indica que apenas 15% das infecções sejam notificadas ao sistema de saúde. Pelas análises de Takahashi, no Brasil esse percentual cai para 5% a 7,5%. “Isso significa que, para falar no total de infectados, incluindo os casos com poucos sintomas ou assintomáticos, deve-se multiplicar por 6 ou 7 o número de casos reportados. Ou seja, é muito provável que já tenham ocorrido de 6 milhões a 7 milhões de pessoas de alguma maneira expostas ao vírus – a imensa maioria, nesse caso, não teve maiores problemas com a doença.”
Mesmo considerando somente os casos confirmados, seu número tem aumentado nos últimos dias não apenas pela rápida propagação do vírus no mundo, mas também em função do aumento do volume de testes para diagnosticar a presença da covid-19. Os Estados Unidos, o país com maior número de casos confirmados até agora (mais de 213.000), intensificou a realização de testes em todos os estados.
No início de março, os americanos haviam realizado apenas 13 testes de coronavírus por milhão de habitantes. No fim do mês, essa média tinha subido para quase 3.400 testes por milhão de habitantes. Ainda assim, os Estados Unidos estão longe da Coreia do Sul, país considerado exemplar no controle do coronavírus – no país asiático, a média é de mais de 8.000 pessoas testadas por milhão de habitantes.
No Brasil, os hospitais não têm conseguido testar todos os pacientes suspeitos de infecção, mesmo aqueles em estado grave, por falta de material de testagem. Essa situação deve começar a mudar nos próximos dias. Na segunda-feira, chegaram ao Brasil as primeiras 500.000 unidades de testes rápidos para diagnosticar o coronavírus, o primeiro lote de um total de 5 milhões de kits adquiridos pela mineradora Vale na China e doados ao Ministério da Saúde.
Os kits serão usados prioritariamente em profissionais que trabalham em postos de saúde e hospitais em todo o país e por outros profissionais que atuam na linha de frente no atendimento à população, como bombeiros, policiais e guardas civis.
Fonte: Redação Exame