Leio a ZERO HORA e na capa já me deparo com a manchete nos alertando que a Anvisa assumirá e regulamentará os espaços, o plantio e a industrialização da maconha para fins farmacêuticos, vale dizer, para fins medicinais. Poderão, os que me lêem, ficarem surpresos mas a canabis é considerada remédio pela Anvisa e mais, regulada por lei, a Lei n.º 11.343/2006, devidamente regulamentada pelo Decreto n.º5.912/2006. O decreto, pasmem, trata das políticas antidrogas no Brasil. Por aí vocês já podem descobrir a ambiguidade da legislação. No meu sentir, estamos tratando o remédio através de normas antidrogas, com previsão de sequestro, prisão e outras sanções que podem atingir a liberdade de ir e vir do cidadão. No mesmo dia, sorvendo o mesmo cafezinho matinal, uma outra manchete de capa me chama a atenção no GAZETA REGIONAL. (…) BM intercepta barco com 330 quilos de maconha. Mas quero ser mais claro nesta matéria. A minha estranheza deu-se por que a Anvisa se propõe delimitar uma gleba, cercá-la com portas duplas, com segurança através do sistema de biometria, para cultivo próprio da canabis para fins de pesquisa e produção de remédios.
Outra novidade: só será permitido o plantio, por empresas farmacêuticas e de pesquisa, pessoas físicas não poderão cultivar o ‘remédio’. Ora, se eu não estiver supervalorizando a artimanha, algo está errado na fórmula encontrada. O narcotráfico será estimulado pois os bandidos deixarão de vender a granel a droga e venderão por toneladas às grandes empresas multinacionais, as mesmas que inundam nossas lavouras de agrotóxicos, muitas das quais vocês conhecem e sabem muito bem de quem estou falando. Então, para burlar a lei é muito simples, é só uma questão de semântica, a Anvisa plantará remédio e e o pessoal da cracolândia queimará um baseado. Mais. Se apenas pessoas jurídicas (empresas) poderão lidar com a canabis é claro que o narcotráfico se dará em uma via de duas mãos, o bandido vendendo e os dependentes comprando às escondidas e, quando não conseguirem pagar serão cobrados ‘na bala’. Aí entra a segunda fase, a dos homicídios. Do jeito que vai, qualquer dia a papoula será remédio, o ópio igualmente, a heroína seguirá o mesmo tratamento e a Anvisa terá o monopólio do remédio. Legalmente! Nós sabemos que muitos remédios podem ser adquiridos (aviados) nas farmácias de manipulação por custos muito menores do que nas farmácias tradicionais, mas agora está proibida a venda da planta a pessoas físicas. Tudo foi planejado, contra o cidadão e contra os mais pobres e enquanto isso o narcotráfico ganhará musculatura e o Delegado Ubirajara terá que colocar o helicóptero em ação.
Até sábado.