A interlocução entre a psicanálise e a educação

A interlocução entre a psicanálise e a educação

A psicanálise comemorou recentemente um século de existência. É uma ciência fundada por Sigmund Freud no século XIX e estuda o funcionamento da mente humana e sua estrutura a partir dos conteúdos inconscientes que habita em cada um de nós. Através dos “sonhos, lapsos, sintomas, esquecimentos surgem representações vivas das verdades que nos dizem respeito, mesmo que muitas vezes tenhamos dificuldade de reconhecê-las como nossas.” (FREUD, 2018, p.15) A palavra psique, em grego, refere-se à alma, espírito ou mente. Assim, a psicanálise pode ser compreendida como a análise da mente ou do espírito. Ela adentra nos mais diversos campos da atuação humana como uma ferramenta essencial na busca do bem-estar e saúde psíquica. No caso do pedagogo escolar, a psicanálise pode ajudar na compreensão da criança como um sujeito de desejo. Somente um sujeito de desejo pode aprender. “As crianças que não aprendem nos trazem um ensinamento não somente sobre sua dificuldade subjetiva, mas também sobre o que podem revelar dos efeitos do discurso social sobre a identidade subjetiva.” (BERGÈS, 2008, p.129) A partir disso, busca-se ter um olhar diferente em cada criança, como ela é, como aprende, que desejos tem, o que busca e como almeja conquistar.

Precisamos compreender que o mundo é complexo e assustador e que a única certeza que temos são as incertezas sobre o mundo, as pessoas e a nós mesmos. Fromm nos ensina que “quando o homem nasce, a raça humana, assim como o indivíduo, é lançado fora de uma situação que era definida, tão definida quanto os instintos, para uma situação indefinida, incerta e exposta.” (1971, p. 28) A psicanálise, através do processo analítico, contribui para o processo do autoconhecimento oferecendo condições ao paciente de revisitar sua própria história, conhecer suas raízes, seus medos, dificuldades, afinal todos nascemos em falta, somos carentes e imperfeitos, cometemos equívocos, sofremos, sonhamos, idealizamos.

Partindo do que pensamos e acreditamos sobre nossa existência, através das pulsões de vida, como sendo aquilo que me move a conquistar, desejar, realizar, ou de morte, quando uma pessoa se sustenta através de dores e sofrimentos, somos tendenciados à manifestação de sintomas. Pessoas negativas tendem a criar sintomas com mais facilidade. Cada sintoma é uma desordem, uma falta de harmonia, um aviso de que alguma coisa está faltando. Segundo Dethlefsen e Dahlke, um sintoma é um sinal e um transmissor de informação, pois, com seu aparecimento, ele interrompe o fluxo de nossa vida e nos obriga a prestar-lhe atenção. (2007, p. 17)

A psicanálise, através da pessoa do analista, contribui para que as tendências recalcadas, conflitos da mente contrários à orientação consciente, ou seja, o conhecimento mais profundo da subjetividade humana e todas as demais questões do psiquismo, desdobramentos emocionais e afetivos, sejam tratados pela terapia através da escuta analítica, para que o paciente possa manifestar a elaboração, compreensão e a possibilidade da cura de sua saúde mental.

Márcia Brun
Pedagoga – Psicopedagoga Clínica
Especialista em Desenvolvimento da Infância e Adolescência e
Psicanalista em formação

BERGÈS, Jean. O que aprendemos com as crianças que não aprendem. Porto Alegre: CMC, 2008.
DETHLEFSEN, Thorwald; DAHLKE, Rüdiger. A doença como caminho. Uma visão nova da cura como ponto de mutação em que um mal se deixa transformar em bem. São Paulo: Cultrix, 2007.
FREUD, Sigmund. Sobre a psicopatologia da vida cotidiana. Porto Alegre: L&PM editores, 2018.
FROMM, Erich. A arte de amar. Belo Horizonte: Ed.Itatiaia, 1971.
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