A escuta como interjogo de possibilidade para o combate ao suicídio

A escuta como interjogo de possibilidade para o combate ao suicídio

Cada vez mais o tema suicídio vem sendo alvo de discussões e incompreensões por grande parte da sociedade, devido às dificuldades de entendimento das circunstâncias que conduzem as pessoas a atentar contra a própria vida, bem como o desconhecimento do que fazer diante de tal situação. As possibilidades de levar uma pessoa ao suicídio são inúmeras, incluindo a doença mental, situações traumáticas de perdas, conflitos familiares, separações, luto, crise existencial de difícil elaboração, recorrências de tristeza, mágoa, dor, sensação de desamparo, falta de perspectivas sobre a própria existência, falência financeira, o uso de drogas ilícitas e álcool. As possibilidades de apoio partem primeiramente do permitir-se falar, dialogar sobre os sentimentos seguido da busca de um profissional qualificado, para fazer o diagnóstico e o tratamento.

A depressão é um sintoma subjetivo, com sofrimento psíquico de grande preocupação na contemporaneidade. E, segundo o Diário da Manhã, o Rio Grande do Sul é o estado que tem a maior taxa de suicídios do Brasil, estando as cidades gaúchas de Santa Cruz do Sul e Passo Fundo entre as que apresentam os maiores índices.

Durante nossa existência são muitas as experiências que passamos na vida, principalmente em se tratando de angústias, perdas, sofrimentos e doenças. Nosso sistema psíquico é tão complexo que atenta aos desejos inconscientes das pulsões, que podem ser compreendidas como uma energia psíquica de estímulos que se originam no organismo e alcançam a mente. A partir da teoria pulsional de Freud, surgem as pulsões de vida e de morte. A pulsão de vida diz respeito às excitações que induzem à busca de objetivos, autopreservação e a pulsão de morte deriva de uma ação voltada à desinvestimento, à estagnação, à falta de perspectivas. Freud (1923/1996) afirma que a pulsão de vida precisa encontrar formas de manter a vida ante a tendência à mortífera da pulsão oposta.

Assim, o que pode levar uma pessoa a estar vivendo uma pulsão de morte? Esse questionamento direciona a muitas reflexões, até por que cada um de nós é único e dotado de uma história. A dor de uma perda, um luto não elaborado ou até mesmo um conflito inconsciente, podem alterar significativamente o estado emocional, levando a pessoa à dissociação do seu verdadeiro “eu” e, consequentemente, a depressão. Não compreende o que de fato ocorreu, os sentimentos tornam-se confusos e contraditórios e só consegue ver a morte como solução para sua angústia. Perde gradativamente a capacidade de superação, de auto preservar-se, de credibilidade e amor próprio, passando a direcionar sua vida a uma hostilidade de sentimentos como: a raiva, a culpa e ódio contra si mesmo.

O psicanalista, através da escuta analítica, convida o paciente à busca do autoconhecimento, “seu verdadeiro eu”, compreendendo que a vida através do sofrimento, da amargura, impulsiona a medidas emergentes de proteção e cuidado. A função do psicanalista é devolver ao paciente a tomada de consciência sobre suas decisões e escolhas a partir do reconhecimento e entendimento dos sintomas. Através da escuta, o analista coloca o paciente em movimento através da palavra, com suas dúvidas acerca de si e do mundo, para, então, retornar ao equilíbrio das forças de suas pulsões, permitido, através de novas experiências, o enriquecimento de novas descobertas e potencialidades para sua existência.

Desta forma, viver é uma arte! Permitir-se a isso, é um constante desafio e uma verdadeira experiência de amor próprio!

Márcia Brun
Pedagoga – Psicopedagoga Clínica
Especialista em Desenvolvimento da Infância e Adolescência e
Psicanalista em formação

https://diariodamanha.com/noticias/rio-grande-do-sul-tem-maior-taxa-de-suicidios-do-pais/ acesso em 08-09-2019.
Freud, S. (1996j). O id e o ego. In J. Strachey, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 19). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1923)
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