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Vida à distância

O coronavírus forçou o isolamento e antecipou hábitos que levariam anos para ganhar escala. O futuro chegou de um jeito trágico — quem sairá ganhando?

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Nos últimos dias, milhares de crianças e jovens passaram a aprender de forma radicalmente diferente. Adultos passaram a trabalhar de uma forma diferente. Com a pandemia já atingindo 193 países e territórios, bilhões de pessoas começam a experimentar mundo afora coisas diferentes em razão da necessidade de manter um distanciamento social — ficar longe o suficiente de outras pessoas para evitar a propagação do vírus. A digitalização de vários aspectos da rotina — algo que os futuristas davam como um movimento irrefreável — está sendo acelerada pela pandemia.

O distanciamento social está levando para dentro de casa o trabalho, o aprendizado, o abastecimento da geladeira, a ginástica, a sessão de terapia e inúmeras formas de lazer que, intermediadas pela tecnologia, nos protegem e nos mantêm isolados. Uma certeza é que a sociedade sairá diferente da atual crise. Depois de semanas — quem sabe meses — de isolamento, vamos incorporar novos hábitos? Muita gente acha que sim.

Confira a entrevista feita com Felipe Diesel:

JGR – O Coronavírus está obrigando as pessoas a agirem de uma maneira diferente das quais estão habituados. Como você vê este processo?
Felipe – Sim, esse vírus veio para mudar o mundo como entendemos. Saiu um artigo no MIT Technology Review semana passada falando que nós não iremos mais voltar ao normal, teremos um novo normal. E esse normal será o distanciamento social, não sabemos quando teremos a vacina, e essa incerteza gera mais angústia e medo. Para parar esse vírus nós estamos tendo que mudar tudo, escola, consumo, rotina, vida familiar e nesse processo, aprenderemos muitas coisas, quebraremos paradigmas que dificilmente voltarão ao modelo anterior. O home office veio para ficar. Esse é um momento “in”, incerto, de insegurança, mas também um momento de olhar para dentro, o nosso interior. Existem várias teorias do porque esse vírus agora, gosto de pensar que é uma segunda chance para a humanidade conviver mais com os seus, repensar decisões, olhar para o seu interior, se conhecer. Passar por aquele processo que negligenciamos na loucura das atividades diárias.

JGR – Muito se fala em novos modelos de ensino e trabalho, com o tecnológico cada vez mais presente. Você acha que a Pandemia vai acelerar este processo de a maioria das coisas ser on line? Vai fazer as pessoas aderirem mesmo sendo contrárias, principalmente as de meia idade em diante?
Felipe – O que estamos vivendo é um Cisne Negro, tal teoria foi concebida pelo escritor Nassim Taleb para definir um acontecimento ou evento de impacto profundo, imprevisível, que muda o cenário do que conhecemos até então. O Cisne Negro pode ser uma catástrofe natural, uma empresa ou até mesmo um vírus. E ele vem para mudar o mundo, redefinir a nossa realidade. O distanciamento social trazido pelo COVID-19 veio para ficar. Seremos mais online, mais digitais. Isso é fato, eu posso entender isso a meu favor e fazer a mudança mais rapidamente ou ver esse momento acontecer e reclamar. Não sabemos quanto tempo teremos que evitar contato com outras pessoas, volto a falar, depende da vacina, isso pode levar meses. Nesse tempo vamos redefinir muitos de nossos hábitos de consumos e veremos que podemos fazer atividades, podemos aprender, nos relacionar, comunicar através de outro meio, que não o presencial.

JGR – Alguns estão tendo oportunidade de crescer em meio a este surto da doença, prova que precisamos aprender a tirar proveito de tudo. Como você vê isso?
Felipe – Na minha opinião, não é momento de tirar proveito, um empreendedor não é um oportunista. Mas um empreendedor sabe o momento de agir, sabe ler e antecipar tendências. Essa crise que estamos vivendo já era esperada, a cada 10 anos o mundo entra em recessão, é assim e sempre vai ser, e já estávamos há 12 anos (2008) de nossa última. Quem conseguiu prever, antecipar, hoje tem mais liquidez e maiores oportunidades de investimento. Quem achou que ela nunca viria está pagando um alto preço. Um empreendedor precisa ter visão e estar enxergando a frente de seu tempo.

JGR – Para você, que setores vão crescer neste momento de dificuldade?
Felipe- Difícil dizer, mesmo, ainda não sabemos a gravidade da situação e pode mudar a qualquer momento, mas com certeza aquelas empresas que entenderem que todo negócio é digital e se posicionarem rapidamente terão grande espaço para crescimento. Negócio digital não precisa ser um app, software… qualquer negócio tradicional pode ser digital, através de diferentes canais eu posso construir um formato de comunicação digital ou até um modelo ágil de gestão. Esse é o menos digital que o mundo vai ser. Você acha que as mudanças estão rápidas? Então senta, por que esse é o mais devagar que o mundo irá mudar. As novas tecnologias, descobertas, pesquisas científicas vão acelerar ainda mais esse processo. Calma aí, ainda não vimos nada.

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