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Santa Rosa tem um jovem observador de aves

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Comenta-se com frequência sobre ações que podem vir a somar com a natureza. E alguns, acabam se entregando de alma e coração a suas atividades de preservação da biodiversidade.

A reportagem do Jornal Gazeta Regional, em mais uma matéria especial, conversou com o jovem Gabriel Brutti (20 anos), que tem um hobby interessante e pouco habitual: observar pássaros.

Nascido na cidade de Três de Maio, veio morar em Santa Rosa quando tinha 02 anos de idade. Gabriel comentou com a reportagem que o amor por observar pássaros vem de muitos anos.

Seu pai era agricultor e quando estava arando, se descuidou e acabou machucando um filhote de Coruja Buraqueira. O pai de Gabriel levou imediatamente para ele cuidar do animal. “Foi aí que esse amor pelas aves despertou em mim. Uma paixão imensa. Fiquei aproximadamente uma a duas semanas e logo a soltei”, comenta Gabriel. Não foi a última vez que cuidou de uma ave, revela também que o fato se repetiu quando precisou cuidar de um “Quero-Quero”.

“Nunca fui muito fã de fotografias, tenho que confessar. Foi através das aves que descobri este amor que estava guardado. Meu primeiro contato com uma câmera fotográfica foi em 2014, quando comprei uma Nikon D3100, com uma lente 18-55, horrível para fotografar as aves, mas mesmo assim, queria para registrá-las de ‘longe’ só para guardar o momento, mesmo não sabendo mexer direito. Então embarquei nessa aventura, conforme o tempo foi passando, fui estudando e aprendendo a desvendar os ‘mistérios’ da fotografia e hoje posso dizer que meu sustento é da própria fotografia!”, explica sobre como iniciou sua paixão (também) pela fotografia.

Gabriel não vê essa sua atividade como trabalho, mas sim como hobby. As vezes é chamado de louco, entretanto, sente um grande amor e prazer fazendo registros de aves. “O hobby vai desde catalogar as espécies em determinadas regiões até alertar os moradores das propriedades da importância de preservar essas áreas, que infelizmente já são pequenos fragmentos que servem de refúgio para essas espécies. O ser humano não preserva aquilo que ele não conhece e eu busco conhecer ainda mais para poder mostrar as pessoas a preservar este meio. Já consegui converter a hipótese de agricultores a derrubarem árvores pelo fato de haver ninhos de espécies de aves nela. E por muitas vezes escutei: ‘Moro aqui há 20 anos e nunca vi um passarinho tão bonito assim’, ressalta Gabriel Brutti.

A ferramenta utilizada pelo jovem observador é o “Táxeus”. Diz ele que conheceu essa plataforma quando foi morar em Sorocaba (SP). Lá pode conhecer e fazer parte do COAVES (Clube de Observadores de Aves de Sorocaba). As atividades aconteciam duas vezes por mês: uma na sede do Clube, que é no Parque na Biquinha e a segunda eram em locais escolhidos pelos membros.

Brutti já realizou 152 registros de aves em Santa Rosa, segundo ele, faz aproximadamente um ano que faz suas observações com registros. “Como venho observando aves desde a minha infância e estudando um pouco delas, tenho facilidade em identificá-las. As que não consigo identificar, olho no guia ou busco identificar em grupos de ID, ou até mesmo peço ajuda aos mestres ornitólogos”.

Os locais que são percorridos pelo observador geralmente é no interior do município, desde o Rincão Onório até o Lajeado Pessegueiro. “Quando se vai à mãe natureza sempre é uma surpresa, porque você nunca sabe o que vai encontrar. Como já tive o prazer de quase correr de uma Jaguatirica. Escutar rugidos e barulhos estranhos virou normal pra mim, o coração dispara, mas é uma adrenalina gostosa”, comenta.

Segundo Gabriel Brutti, ele conseguiu fazer registros no “Wiki Aves” de pássaros que não tinham sido observados em Santa Rosa, tais como: Azulinho (Cyanoloxia glaucocaerulea) e Tesoura do Brejo (Gubernetes yetapa). No entanto, o momento considerado por Gabriel como “mais incrível” foi quando avistou o Araçari castanho, pois pedalou mais de 10 km às 6h da manhã até chegar ao local ideal.

Infelizmente não conseguiu registrar com sua câmera. “Pedalaria mais 100 km só pra ver ele mais uma vez, foram segundos únicos que jamais esquecerei”, ressalta.

Outro momento marcante foi quando estava caminhando cedo da manhã e observou que algo gigante estava indo em sua direção e pousou em um fragmento de mata. Quando avistou pela primeira vez uma Coruja orelhuda (Asio clamator), e ainda mais, alimentando-se de uma Rolinha picuí. “Fiquei arrepiado quando vi aquele bicho pela primeira vez, fiquei lá até ele acabar de se alimentar, depois voou para dentro da mata e nunca mais tive o prazer de reencontrar essa espécie. Momento ímpar!”.

Gabriel comenta que para ser um observador de pássaros, você precisa estar focado somente nesta atividade e disposto a doar tempo. Saber onde há mais concentração de aves, além de silêncio, olhos atentos e ter sorte.

Diz que quando sai a campo não vai com aquele objetivo de encontrar a espécie A ou B. “Confesso que sonho em ter o prazer de ‘trombar’ com algumas espécies. O Araçari Castanho (Pteroglossus castanotis) foi uma dessas espécies, que em cada saída eu sonhava encontrar, demorei quase um ano para observá-lo. O Anu Coroca (Crotophaga major) também é uma delas, pude registrar só no final do ano passado”.

Apaixonado pelas espécies da família Ramphastidae, Gabriel conta que tem prazer em ver mais aves dessa espécie, sendo uma delas o Tucano de Bico Verde (Ramphastos dicolorus).

“Espero um dia poder ter a oportunidade de observar essa e muitas outras espécies que ainda não foram descobertas em nossa região e continuar mostrando para as pessoas e o mundo o que temos e que ele pode nos oferecer. Conhecer para preservar”, finaliza Gabriel Brutti, o jovem observador de aves de Santa Rosa.

 

A reportagem do Jornal Gazeta Regional conversou também com pessoas ligadas com a área ambiental de Santa Rosa para saber o que elas acham dos registros realizados pelo jovem Gabriel Brutti:

 

“Pelo ponto de vista ecológico, é de uma grande valia o trabalho realizado, pois concretamente não há nada disponível na Secretaria de Desenvolvimento Sustentável que registre o comportamento ou mesmo a presença de pássaros na nossa cidade. Sabe-se que com a evolução da cultura do nosso povo, a prática da caça de aves está praticamente extinta atualmente. Isso tem contribuído significativamente para o reaparecimento de espécies antes pouco vistas por aqui. Por ser uma região agrícola e com vegetação nativa abundante, acredita-se que exista uma condição propícia para a reprodução de espécies de pássaros por aqui, inclusive espécies raras.

Pela ótica do turismo ecológico, admite-se que não é uma característica muito própria da nossa cidade o estímulo a esse tipo de atividade econômica. Porém, com a recente reforma da administração municipal, a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável agora, além de abarcar a pasta do desenvolvimento econômico e ambiental, também será atribuição a pasta do desenvolvimento do turismo. Como tal, importa apenas para contribuir com o trabalho realizado e para a efetiva valorização da proposta apresentada pela exposição fotográfica, que sejam identificados os locais onde foram flagrados os pássaros e, com isso, possa-se usar os locais em um plano de turismo ecológico que já está sendo elaborado pela Secretaria visando incluir esses locais em roteiros de visitação turística”.

Marcos Scherer – Secretário de Desenvolvimento Sustentável

 

 

“Todo e qualquer estudo é de grande importância, ainda que sua aplicabilidade possa não ser vista num primeiro momento, a médio e longo prazo com certeza será utilizado. Assim também os levantamentos feitos a campo por este jovem trazem informações muito mais profundas do que tão somente as espécies que ele tem encontrado, o que por si só já bastaria.

Trazem informações relacionadas a todo o ecossistema local, revelando os alimentos consumidos, a relação presa-predadores e, se se este levantamento de dados for quali-quantitativo, poderemos também ter uma análise da qualidade ambiental a partir destes estudos. Todos os seres vivos são “bio-indicadores”.

Acerca da fauna o órgão ambiental estadual – SEMA (Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável), através do SISFAUNA e SISPASS, operacionaliza os cadastros de criadores amadores e profissionais junto ao Sistema do IBAMA e, ao desempenhar estas ações, faz também atendimento a criatórios clandestinos e tráfico de animais em ações conjuntas com a Polícia Ambiental.

E quanto a isto, especialmente por existirem os caminhos legais, é imprescindível que seja exercida a cidadania e que jamais se faça parte deste movimento, por exemplo, comprando um animal oriundo do tráfico.

Aliás, deixamos nossos votos de que o elogiável trabalho feito por este jovem conquiste espaços e que se entenda que a natureza é bela, nas suas condições naturais e assim sendo, inteligentes que somos, saibamos fazer a nossa parte, ou seja, criar condições favoráveis para o necessário equilíbrio ambiental… Quem sabe os registros deste jovem em pouco tempo possam dobrar, triplicar”.

Bióloga Elenir Dahmer Linauer (Analista e Gerente FEPAM/Coordenadora SEMA) e Biólogo Alexandre Hüller (Técnico SEMA)

 

Essa reportagem foi publicada no Jornal Gazeta Regional no dia 14 de Janeiro de 2017. Nesta semana, a reportagem entrou em contato com o observador de pássaros Gabriel Brutti e lhe questionou quantas aves ele já catalogou desde Janeiro. O jovem comentou que ao todo conseguiu catalogar 162 aves.

Que saber quais aves Gabriel catalogou? Segue o link: www.taxeus.com.br/lista/8271

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