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Uma foto em exposição num museu no município de São Lourenço do Sul mostra três heróicos caçadores e suas armas, após a heróica batalha em que mataram, provavelmente o último dos felinos existentes do Rio Grande do Sul, conhecido como Leopardo. Desde aquele fato nunca mais se teve notícias de que algum outro animal daquela espécie fosse avistado. Era da mesma família do Gato do Mato Pequeno, do Gato Maracajá, da Jaguatirica, este último com uma pelagem muito bonita, similar a Onça Pintada.

Na década de cinquenta, na casa da minha avó, Belmira de Mattos, vizinha da morada da Júlia, haviam patas de lebres secas, fixadas nas paredes, servindo de cabide para pendurar chapéus, casacos, capas, etc. Haviam dessas patas na sala de visitas, na cozinha, nos quartos. Meus tios, aculturados, costumavam caçar aos domingos e um deles exibia, com orgulho uma pele de um animal desconhecido, servindo de tapete, no quarto dele. A mentalidade retrógrada da época, a falta de cultura, de consciência ecológica, de ética, não criavam impecilhos à matança. O discurso de um ambientalista naquela época seria considerado bizarro. Mas o mundo mudou. Mudo muito em seis décadas. Os ambientalistas se multiplicaram, ganharam espaço, o arcabouço jurídico veio dar um pouco mais de proteção à fauna brasileira. Muito pouco.

No Brasil, a caça está proibida por lei desde a década de sessenta, exceç ão feitaao Javali, uma espécie exótica, predador, ataca outras espécies de animais nativos e domésticos. No entanto, caçadores irresponsáveis estão burlando a lei fazendo da caça ao Javali a oportunidade para matar outros animais. Perdizes, marrecas, capivaras, pombas. Caçador não é seletivo, ele é assassino de animais. Atira em qualquer animal silvestre que estiver ao seu alcance. O abate de outros animais silvestres não está autorizado em nenhum lugar do território nacional. Inclusive, provoca reação negativa da sociedade civil. Presenciei, na noite do dia primeiro do ano, uma conversa entre amigos dos meus filhos. Quando o tema enveredou para esse lado notei o repúdio unânime com referência a matança esportiva de animais, à caça. E a postura de cada cidadão diz muito sobre seu nível de desenvolvimento ético e comportamental. Minha interpretação é a de que perseguir, caçar e matar, como em rituais da Idade Média, serve para o prazer, para o gozo, para a satisfação dos caçadores. Não é crime famélico. Quem tem caminhonete, armas sofisticadas, importadas, cachorros de raça, freezer, acampam usufruindo de lautos churrascos, bebidas, me desculpem, não estão matando por necessidade de alimentar sua família. É o fenômeno da exteriorização do prazer pela morte, pelo sangue, pela comprovação da sua pseudo superioridade. Seria perfeitamente possível viver em harmonia com a natureza sem matar os animais.

Não sei se alguns dos meus leitores teve o desprazer de assistir a um cão atacar e massacrar outros animais. É uma cena de barbárie, de crueldade absoluta. A caça sempre vai implicar em atos de crueldade, os tiros, os cachorros, facas, armadilhas. A caça é a expressão do que há de mais cruel e retrógrado neste país. É, na verdade manifestação de perversidade e desvio de conduta. Os danos causados por esses predadores não tem reparação. São irreversíveis. O impacto sobre as espécies mais caçadas já se faz sentir há muito tempo. Causa a extinção local de animais e aves. Uma equipe da Universidade Federal de Santa Maria realizou um estudo de impacto ambiental causado pelos caçadores e ficaram impressionados pelos resultados. Encontraram, na região de florestas ao redor de Santa Maria, muitos animais feridos, mortos, aleijados, vítimas de tiros, armadilhas, ataques de cães. No trabalho de campo dessa equipe da UFSM, encontraram inúmeros filhotes de capivara, morrendo de fome. Sua mãe, certamente foi abatida por caçadores. Cumpre lembrar que nas caçadas muitas fêmeas mortas podem estar prenhes.

O Artigo 225 da Constituição Federal esclarece sobre o ordenamento legal da proteção da natureza. O Artigo 29 da Lei 9.605/1998 determina a punição dos infratores: prisão, sequestro dos bens envolvidos na matança, armas, carros…Mas é preciso que as autoridades atuem, ajam. A omissão do Estado faz crescer a arrogância dos caçadores devido a essa sensação de impunidade.

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