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Santa Rosa vive um surto de Dengue. O maior da história do município, segundo estimativas da Fundação Municipal da Saúde. Ou seja, nunca se teve tantos casos confirmados da doença quanto se tem atualmente. Em um bate-papo com o Médico Epidemiologista, Dr. Luiz Antônio Benvegnú, ele esclarece mais sobre a doença. Ele é Médico de Família e Comunidade que trabalha na Fundação Municipal de Saúde há 26 anos, professor do curso de Medicina da UNIJUÍ, com doutorado em Epidemiologia e Coordenador do Comitê Regional de Enfrentamento à Covid-19 e ainda, foi Vice-prefeito de Santa Rosa de 2013 a 2020. Confira:

– A dengue pode se manifestar de formas diferentes em cada pessoa? De maneira mais severa ou mais branda? Por quê?

Médico Epidemiologista, Dr. Luiz Antônio Benvegnú

Sim, a dengue pode se apresentar e evoluir de forma diferente em cada pessoa. Pode variar de uma doença praticamente assintomática até formas mais graves. A forma mais grave também é chamada de dengue hemorrágica, mas como a doença pode evoluir mal sem apresentar hemorragia, a Organização Mundial da Saúde adotou o termo Dengue Grave. A Dengue Grave pode apresentar (além dos sintomas clássicos: febre, náuseas e dores no corpo), sangramentos, palidez, sudorese, dor abdominal intensa, vômitos persistentes, dificuldade de respirar e comprometimento de outros órgãos. Normalmente, o agravamento acontece a partir do terceiro ao quinto dia com o aparecimento dos sintomas mais graves. Não é possível prever qual ou quais pessoas evoluirão para formas graves e, aparentemente, esta evolução não está associada a diminuição da imunidade.

– Qual a diferença entre dengue e dengue hemorrágica? Quem pode contrair a forma mais severa da doença?

A dengue hemorrágica é a evolução com gravidade da doença. Pode acontecer com qualquer pessoa que venha a ter a doença. Quem já teve dengue anteriormente com um dos outros sorotipos (são quatro) tem uma probabilidade maior de desenvolver a doença nas formas mais graves. Mas também é possível desenvolver a dengue hemorrágica na primeira infecção pelo vírus.

– A doença causa a baixa das plaquetas, quais os riscos neste sentido? O que fazem as plaquetas?

As plaquetas são muito importantes na coagulação do sangue. Na evolução da dengue ocorre diminuição das plaquetas e o monitoramento desta diminuição é importante. Na evolução para formas graves pode ocorrer o choque que resulta da concentração do sangue, o aumento da permeabilidade vascular e a falência circulatória.

– Não há remédio para a dengue, certo? E existe um para a dor que não é recomendado tomar, por quê?

Como a doença é causada por vírus, não existe um remédio que previna o contágio ou que cure a doença. O que se deve fazer é realizar o tratamento sintomático para dor e aumentar significativamente a ingesta de líquidos, que vai prevenir as complicações da evolução para formas graves. É bastante líquido! (60 a 80 ml por quilo a cada dia. Então uma pessoa de 70 kg deverá tomar pelo menos 4,2 litros de líquido ao dia, até o quinto dia. Cerca de 30% deste líquido deve ser na forma de soro (caseiro ou “de farmácia”). Em casos mais graves vai ser necessário a hidratação por via endovenosa que será prescrita pelo médico.

O medicamento que não deve ser utilizado é o AAS e todas as outras apresentações que incluem o AAS (analgésicos e anti-inflamatórios). Não deve ser utilizado pelo risco de causar hemorragias. Sempre que possível deve ser buscado atendimento de saúde. Nos casos graves deve haver acompanhamento médico.

– Qual o risco em contrair a doença?

Além do grande desconforto que a doença causa como dor e mal estar, existe o risco de evoluir para forma grave e com isto o risco de morte. Muitas vezes a dengue é subestimada. Com a pandemia de Coronavírus foi um pouco esquecida, mas a maioria das pessoas que teve dengue e Covid relata que a dengue foi pior.

– Na sua opinião, estamos vivendo um surto da doença?

Sim, o número de casos é extremamente elevado. É uma epidemia. Observa-se este aumento no Brasil inteiro, com muitos casos e a presença de óbitos.

A melhor prevenção da doença é evitar a proliferação do mosquito, como todo mundo sabe. As ações e cuidados com a água parada são a melhor atitude. Contudo, neste momento em que ainda por cima temos períodos de muita chuva, fica ainda mais difícil e, portanto, a expectativa é que ainda tenhamos muitos casos apesar do esforço do pessoal da saúde.

Por isso, é importante também a proteção individual, o uso de repelentes e inseticidas caseiros, seguindo as recomendações da embalagem ou recomendação médica no caso de crianças e pessoas sensíveis.

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