0
Shares
Pinterest Google+

Bem sei que não sou escritor, se escrevo alguma coisa é por mero exercício intelectual ou por não ter mais o que fazer. Neste texto pretendo fazer uma narrativa sobre uma pessoa comum, sem grandes feitos, sem fama, que nunca vai ser nome de rua, mas que influenciou a vida das pessoas na sua comunidade. Escrevo sobre o Darci, primo meu, hoje com 83 anos. Encontrei-o com uma pá na mão, concertando a estrada de acesso a sua propriedade para que, quando chovesse, não causasse danos nas terras dos seus vizinhos. Darci é assim: passa o dia trabalhando, plantando, colhendo, cuidando dos bichos. Me disse que Deus lhe deu a vida por alguma razão. Trabalhar lhe deixa feliz e felicidade não é para desperdiçar. Conversei com ele. Uma conversação espirituosa, despretenciosa mas rica em conteúdo, o homem fascina pela inteligência, vivacidade, pela cultura. Ele teria bons motivo para escrever, mas como não escreve no papel, escreve “na cabeça” como me disse. Portador de uma memória impressionante, tem as características de um grande líder: inteligência, caráter, obstinação. Princípios basilares para realizar o papel de liderança que desempenhou na comunidade, desde guri.

Aos onze anos perdeu o pai e mesmo sem ser o mais velho, assumiu a liderança da família onde havia nove irmãos. Sobreviveu a anos duros, disse ele. Falava como se estivesse afugentando o tempo, no mesmo momento em que fazia uma declaração de saudades. Falou sobre uma infinidade de assuntos, relembrou os cargos que ocupou na sociedade local. Foi fundador do Centro Social local, ajudou a construir a igreja de madeira, que hoje não existe mais, e que serviu também de primeira escola, criou a Associação Comunitária local, foi líder sindical, foi a Brasília reivindicar direitos dos trabalhadores rurais, participou da diretoria de movimentos folclóricos, foi membro da União das Associações Comunitárias do município e São Francisco de Assis. Quando notava que alguma coisa poderia ser útil à comunidade dava um jeito de correr atrás, solucionar. Como a comunidade era composta de pequenos agricultores, que não podiam adquirir implementos necessários ao trabalho, Darci criou uma entidade de prestação de serviços para a qual adquiriu roçadeira, balança, pulverizador…Darci foi e é dedicado a causa do associativismo. A ajuda mútua é o próprio cerne da existência, o requisito fundamental para a evolução. Modesto, humilde, quando alguém o elogia pelo tanto que fez responde: posso ter algum talento mas o que fiz devo à minha aplicação, à minha dedicação. A ânsia de fazer as coisas. Não fiz nada de impressionante. Se cunhou-se alguma imagem de benfeitor da comunidade foi porque gosto dela, gosto tanto, que faço disso uma forma de gostar de mim mesmo. Mas há que ser reconhecido que esse homem foi um grande instrumento de construção da história da localidade em que nasci.

Lembro dele na minha infância. E como não poderia ser diferente, guardo na memória instantes em que ele atirava de revólver em alvos como caixa de fósforos colocadas em cima de palanques. Sua pontaria era infalível. Enquanto outros competidores atiravam cinco, seis vezes até acertar o alvo, Darci, quase sempre acertava o primeiro tiro. Amansava bois com maestria, construía suas casas, fazia cercas, era um fac totum. Um “faz tudo”. Como na época as estradas eram péssimas, se uma pessoa ficasse doente, Darci deslocava-se à cidade para explicar ao médico os sintomas que o doente estava sentindo. Na maioria das vezes o médico lhe dava uma receita que ele levava à farmácia e dali saía com os medicamentos, retornando à casa do paciente. Esse home foi um grande instrumento de desenvolvimento da localidade onde nasci, Inhandijú, antigo Rincão dos Corrêas.

O respeito e o amor à terra deve ser reconhecido por todos, amigos, parentes, conhecidos. Pode ter certeza, Darci: a comunidade tem orgulho de ti!

Previous post

Hospital Vida & Saúde substitui caixas térmicas por câmaras científicas

Next post

Como o ballet ajuda no desenvolvimento infantil

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *