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Bucando as próprias origens, qualquer guri vai achar. Trecho de uma música tradicionalista gaúcha da qual subtraio parte para iniciar este texto. E o faço em homenagem ao meu sobrinho e afilhado Marcos Rivadávia, tocador de gaita ponto, narrador de Rodeios, gaúcho da cepa. Apaixonado pelas história do Rio Grande, há poucos dias me falou:—-Padrinho, o que posso ler para aprender mais sobre nossas origens? Parabéns pelo interesse despertado. Qualquer dia te mando um rol de bons trabalhos literários para que tu possa aprender um pouco mais.

Este tema veio à tona devido ao artigo que escrevi sobre a minha visita a casa onde viveu Gomes Jardim, figura expoente da Revolução Farroupilha. Depois disso comecei a busca e leitura sobre vários aspectos desse decênio medonho, que foi de 1835 até 1945. A revolta aconteceu porque os estancieiros gaúchos estavam descontentes com o governo central devido ao isolamento político em relação ao governo de Dom Pedro II, aos altos impostos cobrados sobre o charque, o couro, a graxa, principais produtos de nossas fazendas. O charque era vendido para o sudeste e nordeste para alimentar os escravos nas minas e nas fazendas de café e cana de açúcar. O governo central chegava ao despautério de cobrar imposto menor sobre o charque importado da Argentina e Uruguai do que do nosso.

O descontentamento atingiu o auge na metade da década de trinta. Em vinte de Setembro de 1935 aconteceu o primeiro gesto, a invasão de Porto Alegre, como escrevi em artigo anterior. Os gaúchos adotaram a técnica de guerrilha à cavalo. Penosa, demorada, baseada em cerco à cidades ou tropas inimigas. Na verdade houveram combates de baixa intensidade apesar do longo tempo de hostilidades. As maiores batalhas foram Seival e Barro Vermelho, ambas vencidas pelos farrapos. Mas havia superioridade numérica e armamentista por parte das forças imperiais. Apesar da precariedade do sistema de informação da época, sabe-se que por volta do ano de 1842, nossas forças se encontravam em estado precário. Poucos homens, 800, frente a milhares de soldados do Império. Os faroupilhas já vislumbravam a derrota inevitável. Sem recursos, desmotivados, perdidos. A Revolução perdeu força, restando algumas escaramuças, esparsas, sem possibilidade de levar a um resultado satisfatório. Já haviam morrido 3.000 homens dos dois lados da contenda. Poucas perdas para uma revolução que tanto tempo durou.

Derrotados os farrapos aceitaram as condições impostas para a rendição. Esta aconteceu no Acampamento da Carolina, município de Dom Pedrito, no dia 28 de Fevereiro de 1845. Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, designou poderes a um representante para assinar o acordo de paz. Pelo lado dos farrapos, Gomes Jardim, representou Bento Gonçalves, que estava bastante doente, vindo a morrer dois anos após. Os imperiais respeitaram a honra dos gaúchos. Todos os guerreiros foram anistiados, o imposto sobre o charque foi fixado em 25%, as patentes dos chamados comandantes da guerrilha foram mantidas e os combatentes incorporados ao Exército brasileiro, se assim o desejassem.

Fato polêmico e constrangedor foi que muitos escravos lutaram a favor das tropas farroupilhas, sob o comando de Davi Canabarro, em troca de promessa de alforria. Enquanto se negociava o acordo, os negros, que estavam acampados no Cerro dos Porongos, os famosos e hábeis Lanceiros Negros, haviam entregado suas lanças, já que se assinava o acordo de paz. Aguardavam a sua alforria, sua liberdade. Então, num ataque surpresa, foram dizimados pelo comandante Muringue, das tropas imperiais. Até hoje o fato covarde suscita discussões. Quem ordenou a matança dos negros, desarmados? Os federais que não admitiam a libertação desses escravos? Ou os líderes farrapos? Ou ambos?

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