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Em todas as minhas crônicas falo sem medo de ser queimado na fogueira da inquisição. Só ficaria quieto se meu silêncio fosse interpretado como sinal de protesto a tudo aquilo que não concordo. Não gosto de me fingir de morto. E assumo a responsabilidade sobre as opiniões que aqui emito; este jornal está isento. Mesmo que um dia esteja no bico do corvo, responderei pelo meu modo de opinar, deliberar. Procuro escrever de forma clara, explícita, sem subterfúgios. O que penso, devo explicitar de forma que a Júlia, minha amiguinha de quatro anos, consiga entender. Só falo quando estou convicto das minhas razões. Preciso ser autêntico. Minhas palavras expressam minhas idéias. Se mentisse ou fosse superficial, como seria o acerto de contas deste morto com as autoridades celestiais? Ao texto.

Li que, na semana passada, uma senhora de 81 anos, moradora em Nilópolis, Baixada Fluminense, Rio de Janeiro foi atacada na rua por um cachorro Pitbull. Haviam esquecido o portão aberto. Os vizinhos ouviram os gritos mas quando chegaram, a senhora já estava morta. O proprietário disse que estava surpreso, que o cão sempre foi muito dócil, brincava com as crianças, que já teve outros animais antes desse e que nunca havia passado por uma situação parecida. Nunca havia atacado ninguém. Até o dia do assassinato da senhora. Será processado por homicídio doloso, aquele em que não há intenção de matar. As punições são muito brandas.

Segundo os vizinhos o cão passava latindo, rosnando, saltando até a altura limite das cercas divisórias dos vizinhos. Enxergava alguém e ficava furioso, babando, inspirava medo nas pessoas. As mulheres tinham medo de estender roupas no pátio, os maridos até colocaram mais algum material com a intenção de aumentar a altura da cerca, com medo que ele ultrapassasse e viesse agredir. Falaram diversas vezes com o dono. Teria sido tão ou mais agressivo que o cachorro. Disse que cada um cuidasse da própria vida, que ele cuidaria do seu cãozinho. Precisamos aprender normas de civilidade, melhorar o exercício da cidadania.

Não foi o único episódio, que, aliás, se repete milhares de vezes ao ano no Brasil. Afinal temos quatro cães para cada dez habitantes. Em Santa Maria uma menina foi atacada na rua por um animal que “passeava” sem focinheira e solto pela rua. A criança teve a perna dilacerada. Populares tentaram ajudar mas ele não soltava a guria por nada. Bateram com um porrete mas, segundo testemunhas ele aparentava não sentir dor. Estava com ódio, profundamente agressivo. Resumindo, a criança banhada em sangue, músculos à mostra, ficou dez dias na UTI, teve uma orelha praticamente decepada, sofreu muitos pontos, recebeu várias bolsas de sangue, está com drenos no pescoço e nos pulmões. Sofrerá várias cirurgias plásticas. Sem falar no dano psicológico. O dono disse que ele nunca havia sido agressivo.

Não estou generalizando mas tenho medo do cachorro do Pelé como tenho medo de cobra Cruzeira. Um senhor teve o disparate de me dizer que criava o animal como um auxiliar no processo de humanização, que através do cão conquistava mais amigos. Estás brincando, meu amigo? Sua afirmação faz chegar ao supremo estado da arte. Aposte no caminho de paz e amor. Acredite no respeito pelo próximo. Todas as diferenças são conciliáveis. Pensar que precisa se proteger dos demais da sociedade através de um animal feroz é estreiteza de pensamento. É símbolo de uma individualidade extrema, não atrelada às normas de convivência social.

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