Home»Clóvis Medeiros»Boechat, um filho da mãe

Boechat, um filho da mãe

0
Shares
Pinterest Google+

Em mais um da série de acidentes preveníveis e evitáveis, um helicóptero despenca e cai como um prego, matando um dos maiores jornalistas do Brasil: Ricardo Boechat. Atuava na Rede Bandeirantes. Sua morte chocou o país, não porque era mais um jornalista, ele era especial, versátil, irônico, profundamente competente, trabalhador, desprovido de vaidades. Conta-se que estava sempre garimpando notícias. Andava de táxi pelas ruas, falava com mendigos, com os garis, como também falava com os Presidentes da República, com Senadores, Empresários. Tinha um coração de ouro com os animais, com os seres humanos. Se condoía, ao ponto de chorar frente às câmeras quando narrava fatos de idosos maltratados. Sofria com as injustiças do dia a dia.

Seu ritmo de trabalho era alucinante. Levava consigo seus equipamentos para transmitir, de onde estivesse, seu programa para a Rádio Bandeirantes, para quem também atuava. Uma de suas características pessoais era seu apurado senso de humor. Numa de suas últimas apresentações contava que recentemente havia feito uma viagem pelo norte da África. Caminhava pela cidade de Kampala, uma cidade de Uganda, à noite, quando ao passar em frente de um quartel avistou diversos militares conversando e fumando tranquilamente. O que o impressionou foram os gritos desesperados que vinham de dentro do prédio militar. Com o rotineiro faro jornalístico se aproximou e perguntou aos soldados que grito eram aqueles. ___Estamos executando um preso na cadeira elétrica. Ao que Boechat teria perguntado:___Mas um preso grita tanto assim para morrer na cadeira elétrica?___Um oficial se aproximou e respondeu:___Acontece que faltou luz e estamos fazendo o serviço com velas.

Assim ele levava a vida neste pedregoso trajeto, que é viver no Brasil. Enfrentando a verdade, com senso de humor, mesmo em situações medonhas. Boechat nasceu na Argentina, em Buenos Aires e veio para o país muito cedo. Sua mãe está ainda viva, com 87 anos. Chama-se Mercedes Carrascal. Vive um luto abissal, está exaurida. Teve sete filhos, dois estão mortos. A um repórter que a entrevistou há alguns dias falou: As montanhas são velhas mas continuam verdes. Preciso continuar para amar os outros Boechat’s. Todos são iguais para mim. Um foi âncora de TV, mas isso é apenas um adereço, um título. Tenho orgulho do meu filho pela sua personalidade, pelo seu caráter, pelo ser humano sensível que foi, por fazer as coisas sem esperar recompensa.

E continua falando dona Mercedes. ___Ainda hoje esteve na minha casa um casal do Rio Grande do Sul, de Santa Maria. Perderam uma filha na Boate Kiss. É uma vergonha que nossa Justiça não seja justiça, que não se dê valor a vida humana, que não se puna. Um ser humano não se pode repor. Nunca vamos acaba com os problemas sociais se não mudarmos as cabeças desses todos que estão lá em cima. Eles têm que impor respeito ao povo que merece respeito e não caridade pública. Eles têm que nos dar Hospitais com decência, colégios públicos que ensinem nossas crianças, trânsito ordenado, segurança, menos safadeza dos políticos e empresários. Essas foram as razões da luta do meu filho.

Previous post

Pente-fino elimina fila de espera para entrar no Bolsa Família

Next post

Porque é Páscoa em Tuparendi

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *